1. Se você não amar a si mesmo você nunca será capaz de amar alguém mais. Se você não for benévolo consigo mesmo você não pode ser benévolo com ninguém mais. Seus assim chamados santos que são tão rigorosos com eles mesmos, estão só fingindo que são benévolos para com os outros. Isso não é possível. Psicologicamente é impossível. Se você não puder ser benévolo consigo mesmo, como é que você pode ser benévolo para com os outros?
O que quer que você seja para si mesmo você será para com os outros. Deixe que isso seja o ditado básico. Se você odeia a si mesmo você irá odiar os outros – e você foi ensinado a odiar a si mesmo. Ninguém nunca lhe disse, “Ame a si mesmo!” A própria idéia parece absurda: amar a si mesmo? A própria idéia não faz nenhum sentido – amar a si mesmo? Nós sempre achamos que para amar a gente precisa de alguém mais. Mas se você mesmo não experimentar isso você não será capaz de praticá-lo com outros.
Foi dito a você, constantemente condicionado, que você não vale nada. De toda direção tem sido mostrado a você, tem sido dito a você, que você é indigno. Que você não é o que deveria ser, que você não é aceito como você é. Existem muitos deveriam pendurados na sua cabeça, e esses deveriam são quase impossíveis de realizar. E quando você não consegue realizá-los, quando você fracassa, você se sente condenado. Um ódio profundo surge em você para consigo mesmo.Inconscientemente.
Como é que você pode amar os outros? Tão cheio de ódio, onde é que você vai encontrar amor? Assim você apenas finge, você apenas demonstra que está apaixonado. No fundo você não está apaixonado por ninguém; não pode estar. Esses fingimentos são bons por uns dias, então a cor desaparece, então a realidade afirma-se.
Todo caso de amor é gelado. Cedo ou tarde, todo caso de amor se torna bem envenenado. E como é que fica tão envenenado? Ambos fingem que estão apaixonados, ambos vão dizendo que amam. O pai diz que ama o filho; o filho diz que ama o pai. A mãe diz que ama sua filha, e a filha continua dizendo a mesma coisa. Os irmãos dizem que amam um ao outro. O mundo inteiro fala sobre amor, canta o amor... e você pode achar outro lugar mais desamoroso? Nem um pingo de amor existe – e existem montanhas de falas, um Himalaia de textos,orações, canções,poesias sobre o amor.
Parece que todas essas coisas são apenas compensações. Porque não podemos amar, temos de algum modo de acreditar através da poesia, do cantar, orar,que amamos. O que perdemos na vida colocamos nisso. O que vamos perdendo na vida, colocamos no filme, na novela. O amor está absolutamente ausente, porque o primeiro passo ainda não foi dado.
O primeiro passo é: aceite a si mesmo como você é, abandone todos os deverias. Não carregue nenhum dever em seu coração! Você não pode ser outro alguém; você não deve fazer coisa alguma que não lhe pertença. Você só tem que ser você mesmo. Relaxe e seja você mesmo. Seja respeitoso para com sua individualidade. E tenha a coragem de assinar sua própria assinatura. Não continue copiando assinaturas dos outros.
Ninguém espera que você se torne um Jesus ou um Buddha ou um Ramakrishna; espera-se que seja você mesmo. Foi bom que Ramakrishna nunca tenha tentado ser outra pessoa, assim ele tornou-se Ramakrishna. Foi bom que Jesus nunca tenha tentado tornar-se como Abraão ou Moisés, então ele tornou-se Jesus. Foi que Buddha nunca tenha tentado tornar-se um Patanjali ou Krishna; é por isso que ele tornou-se um Buddha.
Quando você não está tentando ser mais ninguém, então você simplesmente relaxa; assim surge uma graça. Desse modo você fica repleto de grandeza, esplendor, harmonia... porque assim não há nenhum conflito! Nenhum lugar para ir, nada pelo que lutar, nada para forçar violentamente sobre você. Você se torna inocente.
Nessa inocência você irá sentir compaixão e amor por você mesmo. Você irá se sentir tão feliz consigo mesmo que mesmo Deus vem e bate na sua porta e diz, “Você gostaria de tornar-se outra pessoa?” você dirá, “Você enlouqueceu?” Estou perfeito! Obrigado, mas nunca tente uma coisa dessas – Sou perfeito como sou”.
No momento que você pode dizer para Deus, “Sou perfeito como sou, Sou feliz como sou”, isso é o que no Oriente chamamos deshraddha - confiança; assim você aceitou a si mesmo e aceitando a si mesmo você aceitou seu criador. Negando a si mesmo você nega seu criador.
Se você for ver uma pintura de Picasso e você diz, “Isso está errado e aquilo está errado, e essa cor devia ser desse jeito, “você está negando Picasso. Na hora que você diz, “Eu devia ser assim”, você está tentando crescer em cima Deus. Você está dizendo, “Você cometeu erros crassos; eu devia ter sido assim, e você me fez desse jeito?” Você está tentando crescer em cima de Deus. Isso não é possível. Sua luta é em vão; você está destinado a fracassar.
E quanto mais você fracassa, mais você odeia. Quanto mais você falha, mais você se sente condenado. Quanto mais você falha, mais você se sente impotente. E desse ódio, dessa impotência, como é que a compaixão pode surgir? A compaixão surge quando você está perfeitamente fundamentado em seu ser. Você diz, “Sim, é assim que eu sou”. Você não tem ideais para realizar. E imediatamente a realização começa a acontecer!
As rosas florescem tão lindamente porque elas não estão tentando se tornarem lótus. E os lótus brotam tão belamente porque eles não ouviram as lendas sobre outras flores. Tudo na natureza vai tão belamente em harmonia, porque ninguém está tentando competir com ninguém, ninguém está tentando tornar-se alguém mais. Tudo é do jeito que é.
Apenas veja o ponto! Seja você mesmo e lembre-se que você não pode ser outra coisa, o que quer que você faça. Todos os esforços são fúteis. Você só tem que ser você mesmo.
Só existem dois caminhos. Um é: rejeitando, você pode permanecer o mesmo; condenando, você pode permanecer o mesmo; ou: aceitando, rendendo-se, desfrutando, deleitando-se, você pode ser o mesmo. Sua atitude pode ser diferente, mas você irá permanecer do jeito que você é, a pessoa que você é. Uma vez que você aceita, surge a compaixão. E assim você começa a aceitar os outros!
Você já observou: é muito difícil viver com um santo, muito difícil. Você pode viver com um pecador; você não pode viver com um santo porque um santo estará continuamente lhe condenando: por gestos, com os olhos, do jeito que ele olha para você, da maneira como ele fala com você; ele sempre tem alguns ideais nos olhos, encobrindo. Ele nunca lhe vê. Ele tem alguma coisa distante e ele prossegue lhe comparando com isso... e, é claro, você sempre cai. O próprio olhar dele lhe torna um pecador. É muito difícil viver com um santo... porque ele não aceita a si mesmo, como ele pode lhe aceitar? Ele tem muitas coisas nele. Notas dissonantes. Ele precisa ir além. É claro, ele vê as mesmas coisas em você de uma maneira exagerada.
Mas para mim só é um santo a pessoa que aceitou a si mesmo, e nessa aceitação ele aceitou o mundo inteiro. Para mim, esse estado da mente é o que a santidade é: o estado de aceitação total. E isso é curativo, terapêutico. Apenas estar com alguém que lhe aceita totalmente é terapêutico. Você será curado.
Osho, Extraído de: A Sudden Clash of Thunder
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"Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto."Rubem Alves