A MULHER NA PÓS-MODERNIDADE
Nas últimas décadas, as mulheres saíram em massa para o trabalho fora de casa e a maioria passou a controlar a sua fertilidade, ampliando em muito a possibilidade de controlar a sua própria vida, escolhendo os rumos que a foram distanciando cada vez mais da mulher submissa, restrita aos papéis de mãe e esposa, ou a de objeto sexual. Aos poucos foram sendo enterrados conceitos de que “TAPA DE AMOR NÃO DÓI” , “EM BRIGA DE MARIDO E MULHER NÃO SE METE A COLHER PORQUE ELE ESTÁ BATENDO NO QUE É DELE”. Tapa de amor dói sim e é crime, diziam os cartazes dos anos 80. Não à impunidade ! Doca Street e Lindomar Castilho foram para a cadeia.
Dos anos 90 para cá, estamos diante de um ressurgimento globalizado e macabro de valores conservadores, de uma tentativa de fazer regredir direitos de uma cidadania arduamente construída em vários campos. Contra a autonomia das mulheres, impõem-se modelos de juventude e de beleza inatingíveis, incentivando o consumo de produtos variados, cirurgias, remédios perigosos. Impõe-se uma imagem corporal e uma sexualidade submetida ao desejo masculino. A maternidade, que já havia sido definido como uma escolha e não como uma imposição do destino, volta a ser tratada como fonte máxima de realização das mulheres e elemento definidor do que seria uma mulher de verdade.
Além da violência física, esses outros exemplos constituem-se em formas de violência simbólica pois influenciam as mulheres a se enxergarem a partir dessas modelagens que interferem na subjetividade e no amor próprio. Sandra Gomide e muitas outras, como uma epidemia, está aumentando o número de mulheres assassinadas por namorados, maridos ou companheiros, em todas as classes sociais. A cada 4 minutos uma mulher é vítima de agressão no país e aqui na capital, morre uma mulher a cada 17 dias.
Como Sandra Gomide, muitas Marias já não respiram mais, não abraçam, não sorriem, não trabalham. Não podem mais cuidar de suas vidas, nem decidir com suas próprias cabeças o que fazer. A violência com que as mulheres são assassinadas por crimes premeditados e passionais nivelam a todos os agressores de distintas camadas sociais e intelectuais a um mesmo nível ou perfil. O índice de mulheres que morrem com problemas relacionados à gravidez é semelhante ao dos países mais pobres de América Latina.
Nos anos 90 descobrimos que denunciar os crimes não era suficiente se eles continuavam impunes. “a IMPUNIDADE É A CÚMPLICE DA VIOLÊNCIA”.
A impunidade passa a ser acobertada por uma atitude machista que tenta transformar a vítima em ré e leva a um corporativismo sem ética e desvios de poder. Infelizmente, as mulherem que embora representem cerca de 40,3% da população trabalhadora restam os cargos de 2º e 3º escalão. Dificilmente encontramos mulheres nos núcleos de poder e comando, são vice-isso, sub-aquilo. O que dizer então das que são “mulheres de...”, “filhas de...”, “amantes de...” e agora até ex de ...” (Ronaldinhas, Sena, Pelé etc..)
Segundo o art. 5º da constituição, HOMENS E MULHERES SÃO IGUAIS EM SIREITOS E OBRIGAÇÕES. Para conquista deste direito podemos contar hoje:
. Delegacia da mulher
. Defensoria Pública
. Juizados especiais
. Conselhos Tutelares
. Conselho Estadual dos direitos das mulheres
. Instituições não governamentais, etc...
Temos avançado em muitas direções mas existem muitos avanços ainda por fazer, como exemplo:
. mulheres que continuam desrespeitadas e discriminadas em seus trabalhos;
. mulheres abandonadas por seus pais e companheiros;
. mulheres solitárias na sobrevivência da prole;
. mulheres humilhadas e envergonhadas por serem mães solteiras;
. mulheres agredidas física e psicologicamente;
. mulheres violentadas e abusadas sexualmente;
. mulheres estigmatizadas pela prostituição;
. mulheres que ignoram seus direitos.
Dia 18 de março venceu o prazo do período de amamentação de uma mulher na Nigéria julgada e condenada a morrer por apedrejamento.
Dois milhões de meninas de 5 a 15 anos são levadas a prostituição por ano.
Cabe portanto fazermos uma reflexão da psicologia dessas mulheres que se tornam vítimas de uma sociedade tão tirânica e injusta quanto seus parceiros.
Segundo os boletins de ocorrência das delegacias de polícia, o perfil dessas mulheres se define por donas de casa, entre 21 e 27 anos,sendo 44% das agressões são da ordem de lesões corporais e ocorridos nos finais de semana por companheiros de relação estável e associado ao uso de álcool ou droga.
Essas relações parecem se caracterizar por uma dinâmica sado-mazoquista , cujas necessidades de co-dependência econômica ou emocional primária estão sendo mantidas. A posição passiva que é mantida as custas de muita raiva submersa, acaba por fazer emergir um modelo igualmente tirânico em contra-partida. Assim, vemos emergir muitos modelos femininos que saem da posição PASSIVA, de uma obediência adequada e correspondente ao desejo do outro para uma posição AGRESSIVA, igualmente inadequada ou impotente.
Esse modelo fálico de mulher, agressiva, arrogante e autoritária, tende a reproduzir um modelo tirânico de um masculino que também tende a ruir. Precisamos de homerns e mulheres capazes de integrar masc.e femino, aonde a agressividade competitiva e inescrupulosa dê espaço para ações sensíveis e éticas, integradas ao interesse coletivo . Isto parece confirmar o conceito de saúde mental em que as nossas direções ou rumos a serem tomados sejam a prática de uma escolha adulta e responsável.O processo portanto é de trabalhar a formação de uma cultura de saúde mental com a conscientização das posturas comportamentais necessárias para que as políticas de cidadania possam ser aplicadas.
A humanidade tem duas asas: o homem e a mulher. Enquanto essas duas asas não estiverem em igual força, o pássaro não poderá voar e o extraordinário alcance da humanidade não poderá ser obtido.
NILVÂNIA ZENAS CUOGHI MELHORANÇA