Falar da Jandirinha é pedir licença para falar da minha criança que anda espreitando o passado em busca desta artista em plena criação de pessoas, que hoje estão aqui, ali acolá!
Naqueles tempos d’antão lidava com as nossas peraltices com mão certeira e aplicava doses sólidas deeducação, de princípios e de valores éticos, quase sempre soerguendo-se das solidõesimpostas pelas costumeiras ausências paterna, sem alardes, abnegada e resignada ao tal destino que assim o quis.
Ao longo da criação, a artista no empenho das suas obras foi se metamorfoseando e semisturando de tal forma que se fundiu numa construção absoluta e una de magnitude ímpar e eterna no alcance de todos os tempos e de seus descendentes.
Tanto assim, que esta minha criança ainda gosta desse seu abraço choroso, do beijo resvalado sem jeito e sem estalo, das suas preocupações exageradas, das lágrimas de agradecimento por nada, das proteções misteriosas que nos alcança sem se manifestar e de sua crença sibilando orações que esta adulta,
por
mais dúvidas que a atormente sobre os mistérios divinos, nunca
conseguiuesquecer, e ainda se curva em entrega e devoção com total
confiança nesse seu Deus, que é de todos nós!
Esta minha criança está refletida hoje nos nossos netos, nos bisnetos
que carregam o melhor de ti e de mim, portadores dos jeitos, trejeitos e
cacoetes, dos códigos de família, dos princípios, da bondade e justiça,
além dessa irremediável mania de amorosidade pelos seres vivos -
humanos, animais e vegetais.
Todos herdeiros desse seu modo entusiasmado de ser e falar de tantas
coisas banais, alegres ou nem tanto, e até de algum susto levado da
breca que te assomou e porque não, das noticias vistas na TV que te
intrigam, encantam e te mantém atualizada com a vida que pulsa dentro
das quatro paredes onde quer que estejas.
Vinda lá dos longínquos tempos da luz do lampião, do fogão de lenha e
dos alimentos in natura até os dias atuais vive intensamente este
admirável mundo novo, ah! Jandirinha, sempre seduzida pela novidade que
lhe cai como luva, porque dela se apropria e se molda!
Então, esta criança que mora aqui foi aprendiz dessa matriz intensa e inteira e hoje sobrevive incólume rente à adulta, sem infantilizar seu crescimento natural nas andanças impostas pela vidadiante dos seus mistérios de perdas & ganhos e das solidões inescrutáveis que nem te assustam mais, esta fusão de criança e adulta tão bem engendrada pela mão criadora sempre que te vê, ao longo desses 84 anos, vê muito além da pessoa, vê a sua essência tão transparente que transpassa avestimenta física para anunciar-se absoluta em sua simplicidade desconcertante que nos ensina e nosfaz tão bem!
Esta criança se ri desse seu jeito teimoso de se por à vontade nos trapos esfiapados às voltas com sua panelas nos quitutes ou na lida, e nem se percebe nos seus ânimos sempre empolgados as dores sofridas, as renúncias escolhidas, as histórias vividas que tanto estimo, procuro e admiro mais a cada dia e com quem gosto tanto de conversar das suas e outras histórias infinitas, que nenhumaimaginação pode conceber nesse mundo da fabulação que te iguale nas vivências do seu caminhar, querida mãe!
Este Ser - criança & adulta, sob sua proteção e orientação um dia tentava adivinhar a vida que se descortinaria mundão afora, aí a Vida chegou a galope e já ameaça passar de raspão mas, não antesde te confessar o meu amor, a minha gratidão pelo abençoado privilégio de ser sua filha e de termerecido seus cuidados e a sorte de poder te reviver nos meus três filhos e cinco netos!
Minha mãe Jandirinha um dia adivinhou em seus sonhos a adulta que eu queria ser e me ajudou a chegar aqui.
E, ainda hoje aos 84 anos traz alegria e esperanças à minha idade,
pois, hoje sou, desde então, uma adulta inteira e melhor, do jeito que um dia, criança, sonhei ser!
Obrigada minha querida mãe Jandirinha!
Cuiabá, 07 de Janeiro de 2014.
Nivia Melhorança Bicalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto."Rubem Alves