Sânias e neo-sânias:





Primeiramente, quero explicar como fiz a escritura desta palavra, que apareceu no Ocidente através do inglês - sannyas. Usei meu ouvido, meus conhecimentos em lingüística e escrevi o som da palavra dito por indianos em Puna. A Índia está reavendo seu direito de dizer como suas palavras são pronunciadas lá, na língua oficial deles, não mais com a interferência dos colonizadores ingleses. É possível que daqui surja um glossário de palavras que ainda não existam no nosso dicionário, mas que estão muito faladas pelos brasileiros, pois vamos aos montes à Índia.

Sânias é um discipulado. Esta palavra também tem um sentido usual que não corresponde ao original - chamamos alunos de discípulos, e professor de mestre. O resultado é muito feio, distorcido, mas é o que fazemos à revelia, no Ocidente.

Mestre é alguém que indica um caminho de compreensão; discípulo é alguém que, tendo compreendido, segue sua própria compreensão. Para que isso, tão simples, se dê, é necessário que haja uma entrega inicial por parte de quem se sente preparado para ser discípulo - coisa muito rara, principalmente no mundo atual, onde até as mulheres reivindicam seus direitos de não curvar a cabeça. Interessante: eu não curvo a minha. Mas, quando deparei-me com um Mestre verdadeiro, a quem procurei por tantas vidas, a minha cabeça curvou-se e houve uma entrega.

Mas por que "neo-sânias"? Eis a grande questão.

Osho é uma revolução no mundo da iniciação. E isso tem a ver com o fato de Ele não ser um iôgue, mas um Mestre do relaxamento, do let-go.

São dois os caminhos de evolução: o do Iôga e o do Tantra - o do esforço e o do relaxamento-entrega. Segundo tenho compreendido, depois de muito esforço chega-se ao relaxamento, ao Tantra. Osho reverte esse ensinamento que não deu muitas chances de evolução ao homem e começa pelo fim, pelo Tantra: "Se temos que relaxar, por que não começar relaxando?".

Quem ou o que impede o homem de relaxar, se ele nasceu relaxado? Eis outra grande questão. Como foi que nos esquecemos de nossa natureza? Que interesses nos tornaram máquinas - doentes, porque não somos máquinas -, rígidas, sofredoras? Será que só podemos ser educados dessa maneira? O que falta na nossa educação para que nos tornemos humanos e adultos?

Parece que agora teremos que resolver estas questões, pois são 6 bilhões de pessoas num planetinha... por enquanto...

Pois podemos contar com a clareza de visão do Mestre Osho para nos ajudar a enxergar no escuro. À medida que as pessoas forem sabendo qual é a fonte das grandes idéias que têm sido captadas e propagadas por várias pessoas ao redor do mundo, talvez a nossa inteligência se abra para receber o coração do Homem que mais amou os homens nos tempos modernos - Ele deu toda a Sua vida a essa pesquisa e foi muito bem sucedido. Pessoas de todas as partes do mundo estão se beneficiando com o Seu ensinamento - o testemunhar.

Meu desejo é que todos os homens comuns, como eu, possam entrar em contacto com o ser dentro deles mesmos. Não há nada fora, está tudo dentro, o mal e o bem.

Osho diz:

"Meu trabalho é basicamente para aquelas pessoas que simplesmente deram um salto, que não perguntaram por quê, que simplesmente olharam em meus olhos e sentiram um louco desejo, um louco anseio de ir comigo sem saber aonde isso irá terminar."

Osho A Sabedoria das Areias. Ed Gente. 1999,
(O Homem Com a Vida Inexplicável, vol. II, p. 137)

QUANDO AMAR SIGNIFICA SOFRER



M.A.D.A.(MULHERES QUE AMAM DEMAIS):

“Quando amar significa sofrer, estamos amando demais. Quando grande parte de nossa conversa com amigas íntimas é sobre ele, os problemas, os pensamentos, os sentimentos dele  e aproximadamente todas as nossas frases se iniciam com “ele”, estamos amando demais. Quando desculpamos sua melancolia, mau humor, indiferença ou desprezo como problemas devidos a uma infãncia infeliz, e quando tentamos nos tornar sua terapeuta, estamos amando demais. Quando lemos um livro de auto-ajuda e sublinhamos todas as passagens que pensamos que irão ajudá-lo, estamos amando demais. Quando não gostamos de muitas de suas características, valores e comportamentos básicos, mas toleramos pacientemente, achando que, se ao menos formos atraentes e amáveis o bastante, ele irá se modificar por nós, estamos amando demais. Quando o relacionamento coloca em risco nosso bem-estar emocional, e talvez até nossa saúde e segurança física, estamos definitivamente amando demais.”

Trecho do livro “Mulheres que amam demais”, de Robin Norwood, Editora Siciliano.

Caso você ache que tem um problema de dependência emocional de pessoas ou de homens, talvez você precise de ajuda especializada. Recomendo a leitura do livro acima e  uma visita ao site das “mulheres que amam demais anônimas” – http://www.grupomada.com.br

Lembre-se: Um relacionamento, para dar certo, deve acontecer entre dois parceiros que compartilhem valores, interesses e objetivos semelhantes, e que possuam ambos capacidade para serem íntimos. Saiba que você é digna de amor, consideração e respeito ou seja, você merece o melhor que  vida tem a oferecer.

SER LEVE...

Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo o que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas.
Daqui para frente apenas o que couber no bolsa e no coração.
Cora Coralina

É ASSIM...


Estou desconfiada de que a gente cresce quando começa a aprender, com o sentimento, muito além da retórica, a não permitir que uma desilusão ou outra nos afaste de nós mesmos e nem dos nossos sonhos mais bonitos. Estou desconfiada que a gente cresce quando é capaz de entender que estar vivo é perigoso, sim, é trabalhoso, sim, mas também é uma oportunidade rara e imperdível.

Ana Jácomo

POEMA SUFI


Esquece o mundo e comanda o mundo.
Sê a lâmpada, o barco salva-vidas,
a escada.

Sai de tua casa e, como o pastor,
ajuda a curar a alma do teu próximo.
Entra no fogo espiritual
e deixa-te calcinar.

Sê o pão bem assado, sê o senhor da mesa.
Vem, sacia teus irmãos.
Tu, que tens sido a fonte da dor,
sê agora o deleite.

Viveste como uma casa sem alicerces.
Sê agora o Um que perscruta
o interior do invisível.

Assim que me calei,
uma voz chegou aos meus ouvidos:
"Se te tornas isto, serás aquilo."

Silêncio!
E depois mais silêncio.
Não uses a boca para falar.
A boca é para provar dessa doçura.

JALAL AL-DIN RUMI


Ao encararmos a nós mesmos

Algum dia, em qualquer parte,
em qualquer lugar,
indefetivelmente,
encontrar-te-ás a ti mesmo
e essa, só essa,
pode ser a mais feliz
ou a mais amarga
das tuas horas.

Pablo Neruda

MINHA ORAÇÃO É O SILÊNCIO

 
Se você for ao templo e sua oração se tornar um desejo, ela jamais será ouvida, pois uma oração só é possível quando o desejo não estiver presente. Um desejo jamais pode se tornar uma oração. Se você pedir algo, você perderá; não estará orando. E Deus sabe quais são suas necessidades.

Havia um santo Sufi, Bayazid, que costumava dizer sempre: “Deus sabe do que preciso, por isso nunca orei — porque é tolice! O que dizer a Ele?Ele já sabe. Se eu digo algo que Ele já sabe, é tolice. Se tento achar algo que Ele não sabe, também é tolice. Como é que você pode pensar uma coisa dessas? Por isso, simplesmente nunca me preocupei. Tudo que preciso, Ele sempre me dá”.

Mas, naquela época, ele era muito pobre, faminto, rejeitado na cidade por onde passava. Ninguém estava disposto a lhe dar um abrigo para a noite. E a noite estava escura e ele estava sentado sob uma árvore; fora da cidade era perigoso.

E um discípulo disse: “O que dizer dessa situação? Se Ele sabe que Seu amado Bayazid está em tal apuro — que a cidade o rejeitou, que está com fome e sem comida, sentado sob uma árvore, com animais selvagens à volta, sem poder dormir — de que tipo de Deus você está falando, que sabe de tudo que você necessita?”

Bayazid sorriu e respondeu: “Ele já sabe que é isto o que preciso neste momento. Esta é a minha necessidade! De outra forma, como? — porque eu deveria estar assim? Deus sabe quando você necessita da pobreza”, disse Bayazid, “e quando você necessita da riqueza. E Deus sabe quando você precisa jejuar e quando você precisa participar de um banquete. Ele sabe! E esta é minha necessidade neste exato momento”.

Você não pode pedir. Se o fizer, não lhe será concedido. No próprio pedir, você prova que não é capaz de recebê-lo.

A oração deveria ser silenciosa. O silêncio é a oração. Quando as palavras chegam, os desejos imediatamente as sucedem — porque as palavras são o veículo do desejo. No silêncio, como você pode desejar? Já tentou? No silêncio você pode desejar alguma coisa?

Como pode desejar, estando em silêncio? A linguagem será necessária, todas as linguagens pertencem ao reino do desejo. Daí a insistência, de todos os que sabem, a respeito de permanecer em silêncio, porque somente quando não há palavras na sua mente é que o desejo cessa; de outro modo, o desejo estará escondido atrás de cada palavra.

Osho, em “Antes que Você Morra”

QUEM É VOCÊ?



A mente é passado, é memória, todas as experiências acumuladas num certo sentido. Tudo o que você já fez, tudo o que já pensou, tudo o que já desejou, tudo o que já sonhou – tudo, seu passado inteiro, sua memória – mente é memória. E a menos que se livre da memória, você não conseguirá dominar a mente. Como se livrar da memória? Ela está sempre ali, seguindo você. Na verdade, você é a memória, então como se livrar dela? Quem é você sem as suas lembranças? Quando eu pergunto“Quem é você?” você me diz seu nome – isso é uma lembrança. Seus pais lhe deram um nome um tempo atrás. Eu pergunto “Quem é você?” e você me fala de sua família, do seu pai, da sua mãe – isso é uma lembrança. Eu pergunto “Quem é você?” e você me conta o que estudou, seu nível de instrução, que fez mestrado em Artes ou que tem doutorado ou que é engenheiro ou arquiteto. Isso é uma lembrança. Quando eu pergunto“Quem é você?” se você de fato olhar para dentro, só terá uma resposta:“Não sei”. Tudo o que disser será apenas uma lembrança, não você de verdade. A única resposta verdadeira, autêntica, só pode ser “Não sei”pois conhecer a si próprio é a última coisa que você faz. Eu posso dizer quem sou, mas não digo. Você não pode dizer quem é, mas se apressa em dar a resposta. Aqueles que sabem quem são, guardam silêncio sobre isso. Pois, se toda a memória for descartada e toda a linguagem for descartada, então quem eu sou não pode ser dito. Eu posso olhar dentro de você, posso dar a você um gesto, posso ficar com você, com todo o meu ser – essa é a minha resposta. Mas a resposta não pode ser expressa em palavras, pois tudo que é expresso em palavras faz parte da memória, da mente, não da consciência.  Como se livrar das lembranças? Observe-as, testemunhe-as. E lembre-se sempre: “Isso aconteceu comigo, mas isso não sou eu.” É claro que você nasceu numa determinada família, mas isso não é você, aconteceu com você, é um acontecimento externo a você. Alguém lhe deu um nome, você o tem usado, mas ele não é você. É claro que você tem uma forma, mas a forma não é você, ela é só a casa em que por acaso você está. A forma é só o corpo em que por acaso você está. E o corpo lhe foi dado por seus pais – é uma dádiva, mas não é você. Observe e tenha discernimento. Isso é o que no Oriente chamam de discernimento – você usa o tempo todo a sua capacidade de discernir. Continue fazendo isso – chegará um momento em que você terá eliminado tudo o que não é você. De repente, nesse estado, você se olha pela primeira vez e encontra seu próprio ser. Continue jogando fora todas as identidades que não são você – a família, o corpo, a mente. Nesse vazio, quando tiver jogado fora tudo o que não for você, de repente seu ser vem à tona. Pela primeira vez você encontra si mesmo, e esse encontro passa a ser o domínio. MESTRE OSHO (Livro: “Consciência – A Chave para Viver em Equilíbrio”)

Por que existe vida? (OSHO)






Por que existe vida? (OSHO)
Osho,

Eu nunca fui capaz de encontrar resposta para uma pergunta. É uma pergunta estúpida, mas mesmo assim eu queria muito saber a resposta. Você poderia nos dizer qual é o propósito da criação? Por que a vida existe? Por que todas as coisas existem? Eu não acredito em acidentes.



Prem Patrick,

A pergunta é certamente estúpida... Você está absolutamente certo a respeito disso. E a pergunta não é respondível. Qualquer pessoa que respondê-la irá somente criar alguns questionamentos a mais em você. Você não foi capaz de encontrar qualquer resposta porque não existe resposta. A vida é um mistério, por isso essa pergunta não pode ser respondida. Você não pode perguntar o porquê. Se o porquê for respondido, a vida deixa de ser um mistério.

Esse é todo o esforço da ciência: destruir o mistério da vida. E a maneira é encontrar respostas para todos os porquês. E a ciência acredita, naturalmente com arrogância e ignorância, que um dia ela será capaz de responder a todos os porquês. Isso não é possível. Mesmo se nós respondermos a todos os porquês, o último dos porquês permanecerá: por que a vida existe, afinal? Qual o significado da existência? Qual é o propósito de tudo isso? Essa pergunta é a última e ela não pode ser respondida.

Se alguém lhe der uma resposta, ela simplesmente irá criar um novo questionamento. E respostas já têm sido dadas... Algumas pessoas acreditam que Deus criou o mundo porque queria ajudar a humanidade. Agora, que tipo de resposta é essa? Ele criou a humanidade para ajudar a humanidade. Qual era a necessidade de criar? Alguns outros dizem que Deus criou o mundo porque ele estava se sentindo muito solitário. Se Deus estava se sentindo mal muito só, então não existe qualquer possibilidade de alguém se tornar um Buda. E se Deus de repente começou a se sentir solitário, então o que ele estava fazendo antes de criar o mundo? Por toda a eternidade ele tem estado só... então de repente , num dia, numa manhã, ele ficou enlouquecido, ou o que? De repente ele começou a se sentir solitário depois do almoço. E qual era a necessidade de criar todo o mundo? Apenas uma mulher já teria sido o suficiente! E agora, como ele está se sentindo hoje? Muito cheio de gente? Gente em demasia pelas ruas? Deve estar planejando destruir o mundo em breve. Sobre que tipo de Deus você está falando? O seu Deus é uma pessoa que pode se sentir solitário?

Todas essas são respostas tolas para perguntas tolas.

Então existem pessoas que dirão: isso é um jogo de Deus, a sua brincadeira. Ele não poderia ter ficado sentado em silêncio? Que espécie de jogo é esse? Adolf Hitler e Mussolini e Joseph Stalin e Mao-Tse-Tung, Gengis Khan, Tamurlaine, Nadir Shah... Brincadeira de Deus? Seis milhões de judeus assassinados por Adolf Hitler, e Deus está brincando com um jogo? Por que ele não vai jogar golfe? ou xadrês? Por que torturar pessoas? Tanta miséria no mundo e esses tolos seguem dizendo que isso é brincadeira de Deus? Crianças que nascem paralíticas, cegas, surdas, mudas... Brincadeira de Deus? Que espécie de Deus é esse? Ou ele não é Deus, ou pelo menos ele não é divino. Ele deve ser muito mau.

Essas perguntas não ajudam. Elas criam mais perguntas. Patrick, o máximo que eu posso dizer é que a vida não tem propósito algum, ela não pode ter qualquer propósito. Todos os propósitos estão no meio da vida. Sim, um carro tem um propósito: ele pode levá-lo de um lugar ao outro. O alimento tem um propósito: ele pode nutri-lo, ele pode mantê-lo vivo. Uma casa tem um propósito: ela pode lhe dar abrigo quando está chovendo e quando está quente. As roupas têm propósito... Todos os propósitos estão dentro da vida, mas a vida em si mesma não pode ter qualquer propósito porque ela não é um meio para algum fim. Um carro é um meio, a casa é um meio. A vida não tem qualquer objetivo, a vida não está indo para lugar algum. A vida está simplesmente aqui! Ela nunca foi criada. Esqueça essa idéia de criação. Isso cria muitas perguntas estúpidas na mente. Ela nunca foi criada, ela sempre esteve aqui e ela sempre estará aqui. Com formas diferentes, de maneiras diferentes, a dança continuará. Ela é eterna. Ais dhammo sanantano - assim é a lei última.

Não há qualquer propósito e essa é a beleza da vida. Se houvesse alguns propósitos, então a vida não seria tão bonita, então haveria uma motivação, então ela seria como um negócio, então ela seria muito séria. Olhe para as rosas, para as flores de lótus, para os lírios. Qual o propósito? O lótus de manhã cedo, o sol nascendo, o cuco começando a cantar...Qual o propósito? Isso não é intrinsecamente lindo? Todas as coisas precisam de propósitos fora de si mesmas?

A vida é intrinsecamente linda. Ela não tem qualquer propósito extrínseco. Ela não é propositada. Ela é exatamente como uma canção de um pássaro na escuridão da noite, ou o som da água, ou o som do vento passando através dos pinheiros...

O homem é voltado para objetivos. E porque a sua mente é voltada para objetivos, ela cria perguntas como esta: "Qual o objetivo da vida? Deve haver algum objetivo." Mas se alguém disser, "esse é o objetivo da vida", então você irá perguntar: "Qual o objetivo desse objetivo? Por que nós devemos alcançá-lo? A que propósito ele irá servir?" E se alguma outra pessoa disser "Esse é o objetivo desse objetivo", as mesmas perguntas irão surgir novamente e você vai voltar ao mesmo ponto, ad infinitum.

Você me pergunta: "Você poderia nos dizer qual é o propósito da criação?"

O mundo nunca foi criado. A palavra "criação" não é correta. O mundo sempre esteve aqui, ele é eterno. Não existe criador. Deus não é o criador do mundo. Deus é a própria energia criativa da existência. É mais criatividade do que um criador. Ele não é o poeta, mas sim a poesia; não o dançarino, mas a dança; não a flor, mas a fragrância.

Você me pergunta: "Por que a vida existe?"

Essas perguntas parecem muito filosóficas, e podem torturá-lo muito, mas elas são absurdas. É como perguntar "Qual o sabor da cor verde?" Isso é irrelevante. A cor verde não tem qualquer sabor. Cor e sabor não estão relacionados absolutamente. "Por que a vida existe?" Veja que as palavras "vida" e "existência" significam a mesma coisa. Isso é tautologia. Você está perguntando: "Por que a vida é vida?" Assim fica mais claro para você. Mas quando você pergunta "Por que a vida existe?", as palavras enganam você.

Você está perguntando "Por que a vida é vida?". Você está perguntando "Por que uma rosa é uma rosa?" Você ficaria satisfeito se uma rosa fosse uma margarida? Então você poderia perguntar "Por que uma margarida é uma margarida?" De que maneira você fica mais satisfeito?

Se a vida não existir, você ficará mais satisfeito? Simplesmente imagine você mesmo sem o corpo, sem a mente, um fantasma perguntando "Por que a vida não existe? O que aconteceu com a vida? Por que ela desapareceu?". Essas perguntas sempre irão persistir e perseguir você.

A vida é um mistério. Não existe qualquer porquê, qualquer propósito, qualquer razão. Ela está simplesmente aqui. Aproveite-a ou abandone-a, mas ela está simplesmente aqui. E estando ela aqui, por que não aproveitá-la? Por que desperdiçar seu tempo filosofando? Por que não dançar, cantar, amar e meditar? Por que não se aprofundar mais e mais nessa coisa chamada "vida"? Talvez no centro mais profundo você irá saber a resposta. Mas a resposta vem de uma tal maneira que ela não pode ser expressada. É como um homem mudo que experimenta açúcar. É doce, ele sabe que é doce, mas ele não consegue falar.

Os Budas sabem, mas eles não conseguem dizer. E os idiotas não sabem e seguem falando, seguem dando respostas a você. Os idiotas são muito espertos nesse sentido de encontrar, de fabricar, de manufaturar respostas. Faça qualquer pergunta e eles terão uma resposta para você.

Quando Gautama Buda costumava viajar por este país de um lugar a outro, alguns poucos discípulos iam à frente e anunciavam na cidade: "Buda está chegando, mas por favor não façam aquelas onze perguntas". E uma daquelas onze perguntas era "Por que a vida existe?". Uma outra era "Quem criou o mundo?" Naquelas onze perguntas, toda a filosofia estava contida. Na verdade, se você abandonar aquelas onze perguntas, nada sobra para ser perguntado. Buda costumava dizer que essas eram perguntas inúteis. Elas não eram respondíveis, não porque ninguém soubesse a resposta. Elas eram irrespondíveis pela própria natureza das coisas.

Um grande filósofo, Maulingaputta, veio até Buda e começou a fazer algumas perguntas... Perguntas após perguntas. Buda ouviu silenciosamente por meia hora. Maulingaputta começou a se sentir um pouco embaraçado porque Buda não estava respondendo, ele estava simplesmente sentado ali, sorrindo, como se nada tivesse acontecido, e ele havia formulado perguntas tão importantes, tão significativas.

Finalmente Buda disse: "Você realmente quer saber a resposta?"

Maulingaputta disse: "Se eu não quisesse, por que eu teria vindo até você? Eu viajei pelo menos mil milhas para vê-lo"..."Por que eu teria vindo de tão longe? Foi um longo sofrimento. Parece que eu estive viajando por toda a minha vida! E você está perguntando se eu realmente quero saber a resposta?"

Buda disse: "Eu estou perguntando de novo: você realmente quer a resposta? Diga sim ou não, porque irá depender muito disso".

Maulingaputta disse "Sim!"

Então Buda disse: "Por dois anos sente-se silenciosamente ao meu lado, não pergunte, não questione, não converse, simplesmente sente-se silenciosamente por dois anos ao meu lado. E após dois anos você poderá perguntar o que você quiser e eu prometo que irei respondê-lo."

Um discípulo, um grande discípulo de Buda, Manjusri, que estava sentado na sombra de uma outra árvore, começou a rir muito alto e começou a rolar pelo chão. Maulingaputta disse: "O que aconteceu com esse homem? Você está falando comigo, você não dirigiu uma simples palavra a ele, ninguém disse nada para ele... Estará ele contando piadas para si mesmo?"

Buda disse: "Vá lá e pergunte a ele".

Ele perguntou a Manjusri. Manjusri disse"Senhor, se você quiser realmente fazer a pergunta, faça-a agora. Essa é a maneira dele enganar as pessoas. Ele me enganou. Eu costumava ser um filósofo tolo, exatamente como você. A resposta dele foi a mesma quando eu cheguei. Você viajou mil milhas e eu havia viajado duas mil milhas."

Manjusri era certamente o maior filósofo, o mais conhecido do país. Ele tinha milhares de discípulos. Quando ele chegou, com ele vieram mil discípulos. Um grande filósofo chegando com seus seguidores.

E Buda disse, "Sente-se silenciosamente por dois anos." E eu me sentei silenciosamente por dois anos, mas então eu não podia fazer uma pergunta sequer. Aqueles dias de silêncio... Devagar, devagar, todas as perguntas foram se desfazendo. E uma coisa eu vou dizer a você: ele manteve sua promessa, ele é um homem de palavra. Após os exatos dois anos, eu tinha me esquecido completamente, eu tinha perdido a noção do tempo, por que quem vai se preocupar em lembrar? Na medida em que o silêncio ficou mais profundo, eu perdi toda a noção de tempo."

"Quando os dois anos se passaram, eu nem estava me dando conta disso. Eu estava curtindo o silêncio e a presença dele. Eu estava bebendo a presença dele. E isso foi tão incrível. Na verdade, no fundo do meu coração eu não queria nunca que aqueles dois anos fossem concluídos, porque uma vez que eles se concluíssem, ele iria dizer: "Agora ceda o lugar para alguma outra pessoa sentar ao meu lado, e você afaste-se um pouco. Agora você já é capaz de estar só, você não precisa tanto de mim. Exatamente como uma mãe afasta a criança quando ela pode comer e digerir por si mesma e não precisa mais se alimentar do peito materno. Assim, Manjusri disse, eu estava esperando que ele se esquecesse de toda essa história a respeito dos dois anos, mas ele se lembrou. Exatamente após os dois anos, ele me disse: "Manjusri, agora você pode formular as suas perguntas". Eu olhei para dentro de mim e não havia nenhuma pergunta, nem ninguém para formular perguntas, era um silêncio total. Eu ri, ele riu, ele deu um tapinha nas minhas costas e disse, "Agora, afaste-se um pouco."

"Assim, Maulingaputta, é por isso que eu comecei a rir, porque agora ele está de novo aplicando o mesmo golpe. E esse pobre Maulingaputta vai se sentar por dois anos silenciosamente e vai se perder para sempre, nunca mais será capaz de formular uma pergunta sequer. Por isso, Maulingaputta, eu insisto: se você quer realmente perguntar, pergunte agora!"

Mas, Buda disse: "Minhas condições têm que ser atendidas."

Então, Patrick, a minha resposta para você é a mesma: atenda às minhas condições, medite, sente-se silenciosamente, simplesmente esteja aqui e todas as perguntas irão desaparecer. Eu não estou interessado em respondê-lo. Eu estou interessado em dissolver as suas perguntas. E quando todas as perguntas desaparecerem, aquele que pergunta também desaparecerá, ele não pode existir sem as perguntas. Quando nenhuma pergunta mais existir, nem aquele que pergunta... quantas bênçãos, quanto êxtase! Neste exato momento, você nem pode imaginar, você nem pode sonhar, você nem pode compreender. Então, todo o mistério da vida se abrirá, mistérios e mais mistérios... e isso não tem fim.

OSHO - The Book of the Books - Discourse n. 10 - 2nd question

O ser humano está condenado a ser livre




 Jean-Paul Sartre

Segundo Jean-Paul Charles Aymard Sartre, filósofo francês nascido em 1905, o ser humano é livre e nada o força a fazer o que faz. Quando citou “nós estamos sozinhos, sem desculpas“, passa para nós a condição de seres conscientes e culpados pelas suas ações e merecedor das consequências. Portanto, não é real para ele o tão comum “eu não tinha outra escolha“. Diria hoje a algumas nações: “Detesto as vítimas quando elas respeitam os seus carrascos“, talvez pelo desprezo destas (nações e vítimas) pela liberdade. As principais idéias deste existencialista podem ser encontradas no livro “O ser e o nada“, publicado em 1943.

Sequestrada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em 2002 quando participava das campanhas presidenciais, Ingrid Betancourt foi mantida em cativeiro até julho de 2008. Filha de pai senador com mãe miss Colômbia, Ingrid foi criada na França e teve o privilégio de conviver socialmente com o poeta Pablo Neruda, o escritor Gabriel García Márquez e o pintor Fernando Botero. Ao ser resgatada, disse: “Melhor morrer tocando a liberdade por alguns segundos do que morrer baleado pelas FARC“. Incrível como alguém que já teve tudo o que a sociedade tanto preza termine por valorizar algo tão simples e gratuito. Será mesmo?

O citado Pablo Neruda escreveu:

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor,
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco,
e os pontos sobre os is em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho nos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da má sorte
ou da chuva que cai incessante.

Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar.

Terá a liberdade algo a ver com isso? Creio que sim. Acredito também que ela se aproxime quando as máscaras sociais são jogadas, permitindo assim sentirmos o calor do sol de um jeito único. É deixar a maquiagem de lado, fechar os olhos e perceber que a  pele respira melhor assim. Esta parte pode parecer direcionada para uma drag-queen, mas não é. Serve para todo mundo que se maqueia de um jeito ou de outro.

Poderia citar aqui as guerras fabricadas com base numa falsa liberdade, mas não vou, prefiro um exemplo positivo. William Wallace foi um lavrador escocês que tranformou-se num guerreiro para no século XIV lutar contra a dominação inglesa. Sua história foi contada no belíssimo filme Coração Valente, vencedor de 5 Oscars, no qual a interpretação de Mel Gibson nos transmite uma idéia de quanto vale ser livre, de quanto este sentimento é puro e belo. Morto pelo exército do rei Eduardo I, Wallace inspirou ainda mais seus compatriotas na luta pela independência da Escócia que foi alcançada alguns anos depois.

E para quem quer sempre mais, as palavras da escritora Clarice Lispector em seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, concluem este post:

“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”.

(fonte:http://www.factivel.com.br/blog/ruth/)
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...