Escrito por Rose Domingues | |||||||
Qua, 25 de Janeiro de 2012 20:30 | |||||||
Sucesso se constrói a partir da harmonização de todas as áreas da vida e também com o exercício da fraternidade. Afinal, seres humanos não são ilhas “Quando tratamos com pessoas, lembremo-nos sempre que não estamos tratando com criaturas de lógica. Estamos tratando com criaturas emotivas, suscetíveis às observações norteadas pelo orgulho e pela vaidade” (Dale Carnegie) O mercado de trabalho cada vez mais competitivo e a idolatria ao mundo das celebridades geram uma corrida desesperada ao sucesso. Mas o que é sucesso? No dicionário, a palavra remete a conceitos que certamente você já ouviu falar, como bom resultado, êxito, triunfo, grande popularidade, poder. Atualmente especialistas voltados à área empresarial e humana expandem esse conceito. Porque não adianta obter vitória em uma ou duas áreas da vida para ser feliz. Não basta estar no melhor cargo da empresa ou ter os melhores rendimentos. Sucesso também tem a ver com ser admirado e querido pelos subordinados (ou colegas), desenvolver atitudes generosas e altruístas consigo, com o próximo e o planeta, cuidar da saúde do corpo, do espírito e da alma. O saldo da conta bancária deve ser tão positivo quanto o da conta emocional, assim reforça o escritor e psiquiatra Augusto Cury no livro ‘Mulheres Inteligentes, relacionamentos saudáveis’. Você já elogiou alguém hoje? Com que frequência diz ‘eu te amo’? Para o administrador, terapeuta de casal e família, Jean Marc Muzzi Quitete, que é pós-graduado em psicodrama e trabalha como trainer de Dale Carnegie Course, aos que pretendem fazer um bom planejamento para 2012, o principal requisito é enfrentar os medos e dar o primeiro passo, seja ele qual for. O maior desafio em geral está no medo imobilizador. Não basta saber o que se quer, é preciso arriscar, permitir-se e, acima de tudo, entregar os frutos da nova empreitada a Deus. “Se você está com problemas, insatisfeito, sentindo-se infeliz, gaste algum tempo refletindo a respeito, gaste outro tempo propondo soluções para o que foi identificado. E encontrada a solução, aja em favor da sua realização. Não protele. Não adie”. Jean acrescenta que o escritor e palestrante Dale Carnegie diz em um de seus livros que ‘o grande mal da humanidade não é a ignorância, é a inércia’. Mas se mexer é diferente de passar como um trator sobre os sonhos e anseios das outras pessoas. A lei da selva não vale na hora de construir o sucesso. Embora a mídia sensacionalista coloque em evidência pessoas de caráter e valores duvidosos, o especialista garante que é impossível trilhar um caminho realmente bem-sucedido sem um bom relacionamento com o mundo à volta. Jean explica que o homem é por concepção divina um ser gregário. Nada se faz, nada se constrói e nada se sustenta sem que apóie e seja apoiado pelo seu próximo. “Observemos as denúncias postas contra homens que erguem seus patrimônios sacrificando a mãe natureza. A sociedade já não tolera mais esse tipo de sucesso que destrói”. O caminho, portanto, está exatamente na fraternidade que gera a consciência de cuidar do planeta como extensão da própria casa. Naquela que proporciona um ambiente de trabalho sadio na empresa, com uma jornada de trabalho que permita aos funcionários conviverem com seus familiares e propiciando-lhes uma justa remuneração. Na fraternidade que faz com que os melhores gestos e palavras aconteçam primeiro com os que dividem a caminhada no lar. Uma das orientações no momento de realizar mudanças é ficar atento aos sentimentos limitadores que são: pessimismo, baixa autoestima e medo. “Todas as obras de autoajuda, bem como o próprio cristianismo, convidam-nos a uma atitude plena de otimismo e coragem diante da vida, tais atitudes são pilares da fé em si e em Deus. Se você desenvolvê-las o céu será o limite”. A roda da vida “O homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está perto da virtude” (Confúcio) Você é bem-sucedido no trabalho, mas vive o calvário na vida amorosa? Saiba que viver situações extremas não combina com felicidade, tampouco com sucesso. Pelo menos é o que explica a psicanalista clínica, terapeuta sistêmica familiar, terapeuta body talk, coach e consultora em gestão de pessoas, Elen Lisboa, que prefere definir essa conquista como ‘plenitude’. Ao atender um paciente, ela inicialmente foca na análise das dez áreas essenciais que compõem a vida do ser humano, baseada no livro ‘Manual do sucesso total’ – do coach executivo e pessoal Rhandy Di Stéfano. Assim é possível descobrir quais áreas estão em déficit e precisam de mais atenção. A partir de um processo de autoconhecimento, são construídas novas metas e hábitos saudáveis, o que às vezes significa ‘começar do zero’ ou de repente apenas fazer ‘ajustes’ em setores desprezados. “O sucesso é um perfeito equilíbrio na roda da vida, não tem a ver apenas com o ‘desfrute’, ao contrário, pesquisas apontam que as pessoas realmente felizes são aquelas que têm resiliência para superar os desafios e se sentem muito satisfeitas pelas metas e deveres cumpridos”. Elen pontua que como o homem nasce e vive em família é incoerente tratar de alguém sem fazer o resgate da criança interior. O grupo ou clã tem sua própria consciência e sistema de valores que são repassados de pai para filho como herança, a exemplo de um Bluetooth. Faz-se o resgate da figura do pai, da mãe e da criança ferida para que seja possível fazer a integração da imagem interna dos pais, essa imagem deve ser no mínimo sustentável e respeitável, pois só assim o adulto poderá levar uma vida saudável. Juntas, as terapias de constelações familiares e body talk são de grande utilidade para o processo de cura, já que resgatam condicionamentos e pressões que o inconsciente exerce sobre a pessoa. Os problemas e limitações em geral só refletem a ponta do iceberg, por isso, antes de iniciar o trabalho de coach, é importante promover o equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual da pessoa, assim os resultados serão realmente eficazes e duradores. Empresários conscientes O administrador e trainer de Dale Carnegie Course, Jean Marc Muzzi Quitete, explica que, nas mais de 200 empresas que entrevistou no ano passado, percebeu que há empresários que ainda não entenderam que seu crescimento, seja qual for sua área de atuação, está diretamente vinculado ao investimento que fazem em sua equipe. Nestas entrevistas percebeu ainda que há uma gama de empresários que investem em cursos que proporcionam conhecimentos, o que é muito bom, mas apesar disso os resultados não acontecem na razão direta do investimento. E há aqueles que, além de investirem em conhecimentos, investem na formação de competências, habilidades e mudanças de comportamento dos membros da sua equipe. Apenas isso possibilita transformar conhecimentos em resultados. Não há outro caminho. “A história está repleta de homens notáveis que apesar de semianalfabetos construíram grandes empresas. O segredo? Bons hábitos. Atitudes. Pró-atividade. Coragem”. Ele contraria a ideia de que para se ter sucesso ou ser um bom funcionário é preciso trabalhar 12, 14 ou 16 horas diariamente. “Há pessoas que trabalham 8 horas e produzem o mesmo, o segrego é tornar a jornada produtiva”. Quem consegue isso consegue chegar em casa e dedicar tempo para a família, para os estudos, para os amigos. A grande questão é como se conseguir isso. Mais uma vez, investindo em treinamentos que proporcionem estes resultados, e gestão de tempo tem mais a ver com mudança de comportamento do que com conhecimentos. “Na obra de Dale Carnegie nós observamos uma dica também importante e que melhora o ambiente de trabalho e o familiar. Ao invés de criticar elogie. A crítica coloca a pessoa na defensiva, é perigosa porque fere o orgulho, gera ressentimentos. Agora todos os seres humanos são suscetíveis a elogios sinceros, se você quer trazer o outro para o seu lado, portanto, aprecie cada ponto que seja passível de elogio, sem cair na bajulação, claro”. Sucesso x fracasso Dia e noite. Quente e frio. Preto e branco. Céu e inferno. Certo e errado. Alegria e sofrimento. A dualidade essencial da vida mostra que o sucesso sempre vem acompanhado de fracasso, portanto, nas palavras de Osho, ‘você está exatamente onde deveria’. Todas as experiências que passou e irá passar compõem a bela canção da sua existência, aceitar com resignação e resiliência é um sinal de sabedoria. Para a psicóloga Nilvânia Melhorança, que há 15 anos trabalha na linha bioenergética, e também está à frente de um grupo de meditação, o ser humano hoje se encontra dividido e não consegue ter uma visão holística de si mesmo e da vida, tem dificuldade em se perceber como um ser mental, emocional, corporal e espiritual. O sofrimento decorre desta falta de ‘integração’ consigo mesmo e com o todo. “No Ocidente o plano material é mais valorizado, então falta vida contemplativa, vive-se como robô, sem alma, de maneira padronizada, o que gera um vazio, um distanciamento de si mesmo”. Se tudo na natureza tem uma lógica e um encaixe perfeito, por que com o ser humano seria diferente? Nilvânia questiona a onda de autoajuda que estimula as pessoas a se acharem ‘Deus’, no sentido de que assumir a obrigação de criar o próprio destino, de atrair para si tudo que bem entender e de preferência nos padrões sociais de sucesso. E se não atrair é porque fracassou. Mas a pressão gera culpa, tristeza, pessimismo e até depressão. “Na verdade, nós não sabemos ao certo o que gera os acontecimentos. Mesmo algo que enxergamos como negativo pode ser uma experiência inevitável para o nosso crescimento, somos seres essencialmente perfeitos, então, o mais adequado não é se arrebentar correndo atrás das coisas, adoecer, machucar os outros e a si mesmo. Já parou para pensar em qual o plano que a vida tem para você? De repente o ideal de sucesso adotado pode afastá-lo de você mesmo e do que realmente é importante”. Ajuda dos ‘astros’ Você começou 2012 se perguntando sobre quais serão os acontecimentos que marcarão sua vida nos próximos meses. Não se conteve e deu uma espiada nas previsões de numerólogos e astrólogos. Mas será que é apenas isso? Com formação em astrologia psicológica há três anos, Maria Eunice de Sousa, de 39 anos, que tem formação em jornalismo e também atua na área de vendas, busca esclarecer que ‘não é o evento que acontece ao indivíduo, e sim o indivíduo que acontece ao evento’. A dica, então, é preciso sair da condição ‘passiva’ diante dos fatos que poderão acontecer para a posição de autoconsciência, entender quais projeções você costuma colocar no mundo e de que maneira atrai parte dos acontecimentos. Na busca da mitologia e dos arquétipos de cada signo, técnica baseada na teoria yunguiana, Eunice explica que é possível encontrar o mito pessoal do indivíduo. O autoconhecimento produz questionamentos sobre o que o ser humano fez para chegar aonde está e como lidar com as energias contraditórias dentro dele. Os astros querem dizer sim alguma coisa. Este ano é regido pela lua, que favorece o ‘feminino’, ligado à nutrição, ao corpo, à família, à maternidade e ao lar. Por trazer energias mais Yin, ajuda na reflexão, no recolhimento. Desde 2008 está havendo mudanças extremas nos planetas, o que afeta o coletivo e o individual. A tendência é a transformação na consciência humana, já que Plutão, que permanece de 12 a 30 anos em um mesmo signo (o anterior foi sagitário, com seus sistemas filosófico e de crenças religiosas), mudou para capricórnio, abalando todas as estruturas financeiras, de poder e leis. “Claro que isso irá afetar cada um de nós, não é segredo que o sistema financeiro não presta, está podre, e terá de ser reconstruído, devemos estar precavidos nesse momento”. Já Urano, que passou sete anos em peixes, agora entrou em áries, e a energia se expandirá em razão da energia ariana da revolução, rebeldia, vontade, progresso. “As pessoas de um modo geral sentirão um apelo forte para mudança na própria vida e na sociedade, tudo está propício”. Em Netuno, que estava em peixes, voltou para aquário, agora retorna para peixes pelos próximos 14 anos o que aguçará a ânsia pela busca espiritual. “É sempre bom prestar atenção à intuição, ao que o coração diz, ficar atento aos sonhos, porque as tendências de mudanças exteriores também se realização no individual, vivemos tempos extremos”. Construindo pontes No livro ‘Seis maneiras de fazer as pessoas gostarem de você’, em seis passos, Dale Carnegie resume o que acredita ser suficiente para cultivar a personalidade agradável que Napoleon Hill identificou como sendo uma das 16 leis do sucesso: torne-se verdadeiramente interessado na outra pessoa; sorria; lembre que o nome de uma pessoa é para ela o som mais doce e importante que existe em qualquer idioma; seja um bom ouvinte. Incentive as pessoas a falarem sobre elas mesmas; fale de coisas que interessem à outra pessoa; faça a outra pessoa sentir-se importante e faça-o com sinceridade. Para o autor, o desejo de se sentir importante está na base da pirâmide das nossas necessidades. Então se você quer agradar ao próximo, deve fazê-lo se sentir importante a partir de fala, gestos e atitudes. Perceba, por exemplo, quando uma pessoa se vê em uma foto com um grupo de outras pessoas. O foco dela está primeiramente sempre nela mesma. Muitas vezes os outros nem são vistos. Outra obra interessante para aprender um pouco sobre liderança é ‘O Monge e o Executivo’, de James C. Hunter, que trabalha a ideia de que o líder mais eficaz é o líder servidor. Como desenvolver tal atitude? Comece com um elogio ou uma apreciação sincera; chame a atenção para os erros das pessoas de maneira indireta; fale sobre os seus erros antes de criticar os das outras pessoas; faça perguntas ao invés de dar ordens diretas. Permita que a pessoa salve o seu próprio prestígio; Elogie o menor progresso e elogie todo o progresso. Seja sincero. Proporcione à outra pessoa uma boa reputação para ela zelar. Perceba como esse tipo de comportamento é muito diferente do observado por chefes carrascos que estão sempre cobrando resultados sem se importar com o lado humano de seus subordinados. O mesmo vale para pais durões ou maridos machistas. “O dinheiro é apontado como problema porque é tangível, concreto, mas a raiz das separações conjugais, por exemplo, está em problemas de relacionamento. Os relacionamentos são fundamentais para a vida do ser humano”.
ENTREVISTA PARA A REVISTA ÚNICA - EDIÇÃO DE JANEIRO/2012 http://www.revistaunicaonline.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=153:empatia-o-primeiro-degrau-para-o-exito&catid=43:destaques-da-31o-edicao&Itemid=10 |
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EMPATIA, O PRIMEIRO DEGRAU PARA O ÊXITO
DESCONSTRUIR PARA CONSTRUIR
O mundo hoje é mais caótico e mais neurótico do que era há algumas décadas?
Acho que as pessoas colocaram muito poder na questão do Ego e vivem hoje muito mais competitivas. Essa competição é a base de toda nossa doença, angústia, individualidade e do medo.
A competição em doses certas faz bem para o ser?
Não é questão de fazer bem ou fazer mal. Isso é parte do ser humano e é pedaço de um processo necessário para se desenvolver. É como se precisássemos de, alguma forma, primeiro viver isso para entender e perceber a dor que a competição causa. Então, chega um momento que a pessoa começa a crescer em consciência.
Mas, mesmo se quiséssemos, no estágio que o mundo se encontra, é impossível viver sem competição...
Chamamos isso de caminho estreito, pois a grande maioria se entrega à competição no trabalho, na escola, na família, em todo lugar. Mas, uma hora isso muda.
De onde vem essa competição? É intrínseca ao ser humano?
Essa natureza da mente de viver através da competição é natural. Uma das razões principais é o medo de deixar de ser especial. Isso é primitivo, vem desde a família. A pessoa nasce e quer ser a queridinha da mamãe e do papai, depois vai para a escola e quer ser o melhor da turma, e assim por diante. Isso faz com que a pessoa acredite que os outros a amam. E isso se repete e vira um ciclo para a vida inteira.
Como são criados esses ciclos?
Por causa da competição, fica-se tentando conquistar o mundo. Em cima desse padrão cria-se uma identidade e uma personalidade, que é feita a partir da sua história de vida. Mas, será que você é isso mesmo? Você veste uma personagem e cria uma maneira de estar no mundo a partir da história que você nasceu, cresceu e se desenvolveu nessa sociedade. Isso é o ter uma imagem no mundo. As pessoas pensam assim: “Eu acredito que sou isso. Então, para ser amado, eu preciso ser inteligente, bonito, rico e outros”.
O culto ao corpo faz um mea culpa nesse processo?
A imagem, o consumo, a performance e o desempenho profissional e pessoal estão muito fortalecidos. O investir em si mesmo é extremamente valorizado. É a chamada busca pela perfeição que gera competição. Quem eu sou está muito relacionado a ideia do corpo, da mente e à ideia de que eu sou como um deus e que controlo tudo a minha volta.
Mas, o ser humano sempre fracassa nesse aspecto e sofre por causa disso...
Isso apenas até o momento em que ele percebe que não está no controle, que aquilo no que coloca empenho não cabe a si mesmo decidir e fazer aconacontecer. O problema é que hoje em dia há uma série de literaturas a esse respeito, que reforçam ainda mais essa crença do “eu quero, eu posso”. Costumam dizer que o que se quer se consegue com um pouco de esforço e pensamento positivo. Isso é ruim, pois dá a ideia de que o ser humano tem controle total da direção e que é o próprio criador. É apenas para satisfazer o próprio Ego.
A sociedade, em especial a mídia e reality shows, tem incentivado ainda mais a competição?
Todas as criações são reflexo do que o ser humano é. Então, eu não acredito que o ser humano seja vítima de nada ou que ele é produto do meio. Criamos o mundo que a partir do que somos e não o contrário. A partir do momento que o ser humano se conscientiza mais daquilo que ele é e do que ele produz, naturalmente se afasta de determinadas coisas. Esse tipo de programas vai existir sempre, pois sempre vai ter gente competitiva.
Seria coreto afirmar que o ser humano é dirigido pelo Ego?
A essência, o que se é de verdade, está além do Ego. É algo que vem com a pessoa desde o momento que nasceu e não muda. Isso é o que permanece por toda vida e é o que realmente importa. A essência só é descoberta se é procurada além da mente, além do corpo, além da sociedade, além da personalidade que é conhecida por si mesmo e pelos outros. Sem descobrir sua própria essência, se vive sem paz, em conflito eterno com si mesmo. E, assim, você acaba pensando que é sozinho no mundo, que não faz parte do todo.
Esse sentimento de separação cria competição...
Se eu e você sabemos que não somos separados em alma e em energia, por que competiremos por um espaço no mundo? Eu tenho o meu espaço, você o seu e podemos viver em harmonia desse modo. O que for para vir para mim está reservado. Não vai ser outra pessoa que vai me tomar isso. Mas, não significa que eu devo ficar parada esperando a vida acontecer. Essa consciência não é algo que se cria do dia para a noite, é um despertar, um processo.
Mas e quem tem pouco e deseja mais?
Alguns estão destinados a ter pouco dinheiro. Outros vão receber muito. E, às vezes, a pessoas ficam se sentindo culpadas por causa das coisas que não conquistam porque acham que isso só dependia delas. O que acontece muito é que copiam o modelo daqueles que obtiveram sucesso e acham que a fórmula é igual para todo mundo. Um fato pode ser verdade para uns, não para outros. O aprendizado necessário para cada indivíduo é diferente, pois as histórias são diversas. É preciso entender que uma flor não é igual a outra, mas todas são belas em sua essência e tem perfume igual. Cada um veio para ser exatamente o que é. Fazer comparações não é algo da natureza. Um abacaxi não tenta ser igual a um caju, por isso o meio ambiente vive em harmonia. As diferenças fazem parte do equilíbrio.
Como é feito esse despertar?
Por si mesmo, por meio de suas experiências, o homem desperta para um novo olhar. Vai passando por dor, fracassos, arrogância, tudo criado por ele mesmo, e acaba despertando. Não é necessário que viva em um mundo perfeito, pois é a dor que ensina. A pessoa se identifica e busca situações que buscam reforçar a identidade que ela tem. Busca sempre um espelho para refletir quem ela é e desejam permanecer sempre a mesma, pois tem medo de mudanças. A mudança é o novo, é o medo, por isso muitas vezes as pessoas negam experiências, para permanecerem sempre as mesmas e manter padrões de comportamento. Entretanto, mudar para melhor é fundamental.
Há atitudes práticas que ajudem a criar o despertar?
Não é algo que vem de fora para dentro, não é a crença de que se pode fazer tudo. É o próprio corpo e a consciência que criam experiências. O corpo é como um computador. A máquina é habilidosa, mas, para funcionar, tem que ter alguém operando. No nosso caso, é o ego, o ser, a energia. Temos que entender que há algumas lutas a serem vencidas, mas que sempre é preciso relaxar. O que vai acontecer, vai acontecer, e por isso devemos flutuar no tempo, perder a presunção de que controlamos alguma coisa. Cada um passa por suas quedas, pois, para aprender, o Ego precisa ser machucado e chegar a um ponto de equilíbrio.
O que é o equilíbrio?
É da natureza da mente estar em luta, querer reeditar o passado e desejar o futuro, o que faz com que esqueça o presente. É necessário humildade para entender isso e se deixar viver. O ser humano busca paz de maneira acelerada e atropelada. O mais importante é perceber a perenidade das coisas materiais, das situações e de tudo o que nos fortalece e sustenta. Toda a arrogância precisa acabar, mas o amor nunca acaba. Vai estar sempre disponível.
REVISTA RDM - EDIÇÃO FEVEREIRO/2012
www.rdmonline.com.br/TNX/conteudo.php?sid=48&cid=3815
POEMA MÍSTICO
Quem faz essas mudanças?
Disparo uma flecha à direita
Cai à esquerda.
Cavalgo atrás de um veado e me encontro
perseguido por um porco.
Conspiro para conseguir o que quero
e termino na prisão.
Disparo uma flecha à direita
Cai à esquerda.
Cavalgo atrás de um veado e me encontro
perseguido por um porco.
Conspiro para conseguir o que quero
e termino na prisão.
Cavo fossas para apanhar os outros
e me caio nelas.
Devo suspeitar
do que quero.
e me caio nelas.
Devo suspeitar
do que quero.
Toma a um que não leva suas contas
Que não quer ser rico, nem tem medo a perder
Que não tem interesse algum em sua personalidade: é livre.
Lá fora, além de idéias de bem ou mal, há um lugar
Nos vemos lá.
Que não quer ser rico, nem tem medo a perder
Que não tem interesse algum em sua personalidade: é livre.
Lá fora, além de idéias de bem ou mal, há um lugar
Nos vemos lá.
Quando a alma jaz sobre a erva
O mundo está demasiado cheio para falar dele
As idéias, a linguagem, inclusive a frase 'cada um'
não tem sentido.
O mundo está demasiado cheio para falar dele
As idéias, a linguagem, inclusive a frase 'cada um'
não tem sentido.
Se pudesses liberar-te, por uma vez, de ti mesmo,
o segredo dos segredos se abririam a ti.
O rosto do desconhecido, oculto além do universo,
apareceria no espelho de tua percepção.
o segredo dos segredos se abririam a ti.
O rosto do desconhecido, oculto além do universo,
apareceria no espelho de tua percepção.
Em realidade, tua alma e a minha são o mesmo.
Aparecemos e desaparecemos o um com o outro.
Este e o verdadeiro significado de nossas relações.
Aqui não há lugar para religiões nem cultos.
Há uma Alma dentro de tua Alma. Busca essa Alma.
Há uma jóia na montanha do corpo. Busca a mina desta jóia.
Há uma Alma dentro de tua Alma. Busca essa Alma.
Há uma jóia na montanha do corpo. Busca a mina desta jóia.
Oh, sufi, que estás de passagem!
Busca dentro, se puderes, e não fora.
Busca dentro, se puderes, e não fora.
No amor, não há alto nem baixo,
má conduta nem boa,
nem dirigente, nem seguidor, nem devoto,
só há indiferença, tolerância e entrega.
má conduta nem boa,
nem dirigente, nem seguidor, nem devoto,
só há indiferença, tolerância e entrega.
Jalal ud-Din Rumi
DAR E RECEBER
...Ide para os vossos campos e jardins e aprendereis que o prazer
da abelha consiste em retirar o mel da flor. Mas também a flor tem prazer em
dar o seu mel à abelha. Pois para a abelha a flor é uma fonte de vida. E para a
flor a abelha é mensageira de amor. E, para ambas, abelha e flor, o dar e o
receber de prazer é uma necessidade e um êxtase.
Khalil Gibran
Khalil Gibran
SOLIDÃO
Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas
tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da
noite.
Naturalidade - Vacuidade
"Momento após momento, cada um emerge do nada. Esta é a
verdadeira alegria da vida."
Há um grande mal-entendido sobre o que seja naturalidade. A maioria das pessoas que vem a nós, acredita em certa liberdade ou naturalidade, mas a concepção que elas têm nós denominamos de jinem ken gedo ou "naturalidade herética". Jinem ken gedo significa que não há necessidade de ser formal - uma espécie de "deixar o policiamento de lado" ou "ficar à vontade". Naturalidade é isso para a maior parte das pessoas. Mas essa não é a naturalidade à qual nos referimos. É um pouco difícil de explicar, mas penso que naturalidade é um certo sentimento de ser independente de tudo, ou alguma atividade que não se baseia em coisa alguma. Naturalidade é algo que emerge do nada, como uma semente ou planta brotando do solo. A semente não tem a menor idéia de ser uma determinada planta, mas tem forma própria e está em perfeita harmonia com o solo, com o ambiente. Com o decorrer do tempo, à medida que cresce, expressa sua natureza. Nada existe sem forma e cor; tudo tem alguma forma e cor. E ambas estão em perfeita harmonia com os outros seres, sem problema. Eis o que queremos dizer por naturalidade.
A verdadeira prática do zazen é sentar-se tal como se toma água quando se tem sede. Aí está a naturalidade. É muito natural dormir a sesta quando se tem sono. Mas dormir a sesta por preguiça, como se isso fosse um privilégio do ser humano, não é natural. Você pensa: "Todos os meus amigos estão dormindo a sesta; por que não eu? Se ninguém mais está trabalhando, por que vou dar duro? Se eles têm muito dinheiro, por que não eu?" Isto não é naturalidade. Sua mente está enredada com alguma outra idéia, ou com a idéia de outrem, e você não é independente, não é você mesmo, não é natural. Embora esteja sentado na posição de lótus, se seu zazen não é natural, a prática não é verdadeira. Você não tem de se esforçar para beber água quando está com sede: você fica contente ao bebê-la. Se você experimenta uma genuína alegria no seu zazen, seu zazen é verdadeiro. Mas, ainda que você tenha que se forçar para praticar zazen, quando sente algo bom em sua prática, isso é zazen. Na verdade, não se trata de forçar ou não alguma coisa em você. Mesmo que tenha dificuldade, se seu desejo é realmente sincero, isso é naturalidade.
Sem o nada, não há naturalidade - nenhum ser verdadeiro. O verdadeiro ser emerge do nada a cada momento. O nada sempre está lá e dele emerge tudo. Mas, geralmente, você se esquece por completo do nada e se comporta como se possuísse algo. O que você faz está fundado em alguma idéia de posse, ou em alguma idéia determinada, e isso não é natural. Por exemplo, ao ouvir uma palestra, você não deve ter nenhuma idéia
A maioria das pessoas insiste em certas idéias. Ultimamente, a nova geração vem falando de amor. Amor! Amor! Amor! Suas mentes estão cheias de amor! E ao estudarem Zen, se o que digo discorda da idéia que fazem do amor, não o aceitam. Eles são bastante teimosos, vocês sabem. Claro que nem todos, mas alguns são muito inflexíveis.
Isso não é naturalidade de modo algum. Embora falem de amor, liberdade ou naturalidade, eles não compreendem essas coisas. E, consequentemente, não podem compreender o que, nesse sentido, é o Zen. Se você quer estudar Zen, esqueça toda e qualquer idéia preconcebida; apenas pratique zazen e veja que tipo de experiência você tem em sua prática. Isso é naturalidade.
Esta atitude é necessária em qualquer
coisa que você faça. Algumas vezes dizemos: nyu nan shin, "mente suave ou
flexível". Nyu é "sentimento suave"; nan, "algo não
rígido"; shin é "mente". Nyu nan shin significa, pois, uma mente
suave, natural. Quando você tem essa mente, tem alegria de viver. Quando você a
perde, perde tudo. Você nada tem. Embora pense que tem algo, nada possui. Mas,
quando o que faz emerge do nada, então você tem tudo. Eis o que entendemos por
naturalidade.
"Quando você estuda budismo, deve fazer uma 'faxina geral na casa' de sua mente."
Dizemos que a verdadeira existência emerge da vacuidade e retorna à vacuidade. O que emerge do vazio é verdadeira existência. Devemos atravessar o portal do vazio. Tal idéia de existência é muito difícil de explicar. Hoje em dia, muitas pessoas já começaram a sentir, ao menos intelectualmente, o vazio do mundo moderno ou a contradição interna da sua cultura. No passado, por exemplo, o povo japonês tinha uma firme confiança na existência permanente de sua cultura e no seu tradicional modo de viver, mas desde que perdeu a guerra tornou-se muito cético. Muitos acham horrível essa atitude cética, mas na verdade é melhor do que a velha atitude.
Enquanto tivermos alguma idéia definida ou alguma esperança acerca do futuro, não podemos levar realmente em consideração o momento que existe agora mesmo. Você pode dizer: "Posso fazer isto amanhã ou no próximo ano", acreditando que o que existe hoje existirá amanhã. Ainda que não esteja se esforçando muito, você espera que algo promissor aconteça, desde que siga determinada trajetória. Mas, não há trajetória que exista permanentemente. Não há uma trajetória estabelecida para nós. A cada novo momento, temos de encontrar nossa própria trajetória. Qualquer idéia de perfeição, ou de trajetória perfeita estabelecida por outrem, não é o verdadeiro caminho para nós.
Cada um de nós deve fazer
seu próprio caminho e, quando o fazemos, esse caminho expressa o caminho
universal. Eis o mistério. Quando você compreende uma coisa em profundidade,
compreende tudo. Mas quando você tenta entender tudo, não entende nada. O
melhor é compreender a si mesmo; então você compreenderá tudo. Assim, ao se
empenhar em realizar seu próprio caminho, você ajudará outros e será ajudado
por outros. Antes de construir seu próprio caminho, você não pode ajudar
ninguém e ninguém pode ajudá-lo. Para sermos independentes nesse sentido
verdadeiro, temos que deixar de lado tudo o que temos em mente e descobrir algo
novo e distinto, momento após momento. É assim que se deve viver neste mundo.
Por isto dizemos que a
verdadeira compreensão emerge do vazio. Quando você estuda budismo, você deve
fazer uma "faxina geral na casa" de sua mente. Deve retirar todas as
coisas de seu quarto e limpá-lo completamente. Se forem necessárias, recoloque-
as no lugar. Você pode querer muitas coisas; nesse caso, traga-as uma a uma de
volta. Mas, se não forem necessárias, não há por que guardá-las.
Dizemos: "Passo a
passo faço cessar o som do riacho murmurante". Ao caminhar ao longo de um
riacho, você ouve a água correndo. O som é contínuo, mas você deve ser capaz de
fazê-lo cessar, caso o deseje. Isso é liberdade; isso é renúncia. Você tem
vários pensamentos na mente, um após outro, mas, se quiser parar seu
pensamento, você pode. Assim, quando for capaz de deter o som do riacho
murmurante, você apreciará a sensação do próprio esforço. Mas, enquanto tiver
idéias fixas, ou estiver preso a alguma forma habitual de fazer as coisas, você
não pode apreciar as coisas em seu verdadeiro sentido.
Se você procura liberdade,
não pode encontrá-la. A própria liberdade absoluta é necessária para se obter
absoluta liberdade. Esta é a nossa prática. Nosso caminho não é ir sempre na
mesma direção. Algumas vezes, vamos para o leste, outras para o oeste. Avançar
uma milha para o oeste significa retroceder uma milha do leste. Em geral, andar
uma milha para o leste é o oposto de andar uma milha para o oeste. Mas, se é
possível andar uma milha para o leste, significa que é possível andar uma milha
para o oeste. Isso é liberdade. Sem essa liberdade, você não pode se concentrar
no que faz. Você pode acreditar que está concentrado em alguma coisa, mas, até
que não obtenha tal liberdade, não estará inteiramente à vontade naquilo que
faz. É por você estar preso a alguma idéia de ir para o leste ou oeste que sua
atividade está em dicotomia ou dualidade. Enquanto estiver sujeito à dualidade,
você não pode atingir nem a liberdade absoluta nem se concentrar.
Concentração não é se esforçar para
observar algo. No zazen, se você procura olhar para um ponto ficará cansado em
cinco minutos. Isso não é concentração. Concentração significa liberdade.
Portanto, seu esforço deveria ser dirigido ao nada. Você deve se concentrar no
nada. Na prática do zazen, dizemos que sua mente tem de estar concentrada na
sua respiração, mas a maneira de manter sua mente na respiração é esquecer tudo
a respeito de você mesmo e apenas sentar-se, percebendo sua respiração.
Concentrando-se na respiração, você esquecerá a si próprio, e esquecendo-se de
si mesmo, se concentrará na respiração. Não sei o que vem primeiro. Na verdade,
não há necessidade de se esforçar muito para se concentrar na respiração.
Simplesmente, faça o que lhe for possível. Se continuar essa prática, você
experimentará a verdadeira existência que emerge da vacuidade.
Shunriu Suzuki - Mente Zen, Mente de
Principiante
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