MEDITAÇÃO




Não seja um robô, qualquer forma de meditar está certa desde que o você seja o anfitrião, "OBSERVADOR"...
FALE UMA LINGUA ESTRANHA, DANCE, PULE, CANTE, RECITE UM MANTRA .. foda-se...  foda-se... foda-se... ... ... ... .. .. .. .  .  .  .  .    .    .    .   .      .      .       .         .         .              .           .

 E CADA VEZ MAIS ESSES  INTERVALOS DE  SILÊNCIO   

Seja a sua própria luz!


O Mestre é o dedo que aponta...é O perfume...é a luz...é a fragância. O dedo que aponta a lua. Perceber ou não a sua beleza não faz a menor diferença se você não olha na direção do que está sendo apontado. Continua imitando o que? Seja a sua própria luz!
 Namastê!

QUEM É VOCÊ

 
"Quando a mente estiver emaranhada no velho vicio, dê-lhe uma "chupeta". A pergunta "Quem é você?" deve ser a sua melhor amiga. Mesmo num momento de turbulência, se você já se deu conta de quem você é, não só pode perguntar para si mesmo, como pode receber as ofertas feitas para que você desperte.

Por mais que tudo pareça perdido, quando você sabe quem você é, num mínimo instante, tudo desaparece. Tenha isso claro, e será iluminador."

Satyaprem

MEDITAÇÃO - NÃO FAZER



O que você está dizendo é que meditação = auto-observação? É isto? Outra coisa, como ensinar alguém a meditar?


Sim, no entanto, meditação enquanto método, que pode ser ensinado/aprendido, é preparação para auto-observação. Prepara o terreno. Existem métodos para isso, Osho deixou vários. No entanto meditação não é aprendida, é um desaprender daquilo que a sociedade te ensinou. Quanto mais vago
disso, mais meditação. Isso pode também ser visto como a presença da observação na vida de alguém. A Consciência da observação. Um pós-método... O terreno preparado. Preparado para quê? Para a possibilidade do sumiço do fazedor! Vulgo iluminação.

Satyaprem

Os sensíveis



"Que os sensíveis sejam também protegidos.
Que sejam protegidos todos os que vêem muito além das aparências.
Todos os que ouvem bem pra lá de qualquer palavra.
Todos os que bordam maciez no tecido áspero do cotidiano. Todos os que propagam a bondade.
Todos os que amam sem coração com cerca de arame farpado.
Que sejam protegidos todos os poetas de olhar e de alma, tanto faz se dizem poesia com letras, gestos, silêncios ou outro jeito de fala.
Que sejam protegidos não por serem especiais, que toda vida é preciosa, mas porque são luzeiros, vez ou outra um bocadinho cansados, no escuro assustado e apertado do casulo desse mundo."

Ana Jacomo

VIAGEM DENTRO DE TI ...



Faltam-te pés para viajar?

Viaja dentro de ti mesmo,

E reflete, como a mina de rubis,

Os raios de sol para fora de ti.


A viagem conduzirá a teu ser,

transmutará teu pó em ouro puro. 
 
Rumi

CONTOS ZEN




Para ler, refletir e guardar, três belas histórias do livro “Zen Shorts”, de Jon J. Muth.

“A Sorte do Fazendeiro”. Era uma vez um velho fazendeiro que já trabalhava arduamente havia muito anos. Um dia, seu cavalo fugiu. Ao ouvir a notícia, seus vizinhos foram visitá-lo. “Quanta má sorte”, eles disseram. “Talvez”, respondeu o fazendeiro.

Na manhã seguinte, o cavalo retornou, trazendo com ele dois outros cavalos selvagens. “Quanta boa sorte!”, exclamaram os vizinhos. “Talvez”, respondeu o fazendeiro.

No dia que se seguiu, o filho do fazendeiro tentou montar um dos cavalos indomados, foi jogado e quebrou sua perna. Novamente, os vizinhos vieram oferecer sua simpatia após o infortúnio. “Quanta má sorte”, eles disseram. “Talvez”, respondeu o fazendeio.

No outro dia, oficiais militares chegaram à vila para levar os jovens para o exército, para lutarem em uma Guerra. Ao ver a perna quebrada do filho do fazendeiro, eles passaram reto. “Quanta boa sorte”, gritaram os vizinhos. “Talvez”, disse o fazendeiro.

“Um grande peso”. Dois monges andarilhos chegaram a uma cidade onde uma jovem mulher estava esperando para descer de sua liteira. As chuvas causaram poças profundas e ela não podia passar por elas sem estragar seu robe de seda. Ela ficou por alí, olhando para o outro lado, de maneira muito impaciente. Ela reclamava para seus servos, mas eles não tinham onde deixar os pacotes da patroa, então eles não tinham como ajudá-la a passar pelas poças.

O monge mais jovem percebeu a mulher, mas não disse nada e seguiu adiante. O monge mais velho a pegou rapidamente, colocou-a em suas costas e a transportou para o outro lado, onde a deixou. Ela não agradeceu o monge mais velho, ela apenas o tirou de seu caminho e seguiu adiante.

Enquanto eles seguiam adiante, o monge mais novo meditava, preocupado. Depois de várias horas de silêncio, ele finalmente falou. “Aquela mulher lá atrás foi muito egoísta e rude, mas ainda assim você a carregou em suas costas! Depois, ela nem agradeceu você!” “Eu descarreguei aquela mulher lá atrás há várias horas”, o monge mais velho respondeu e continuou. “Por que, então, você ainda a está carregando?”

“Tio Ry e a Lua”. Meu tio Ry morava sozinho em uma casa nas Colinas. Ele não possuia muitas coisas e levava uma vida simples. Uma noite, ele descobriu que tinha um visitante. Um ladrão havia invaido sua casa e estava vasculhando entre os poucos pertences de meu tio.

O ladrão não percebeu tio Ry e quando meu tio disse ‘Olá’, o assaltante ficou tão surpreso que quase caiu. Meu tio sorriu e apertou as mãos do ladrão. “Seja bem-vindo! Seja bem-vindo! Que bom que você veio me visitar!”. O assaltante abriu a boca para falar, mas não conseguia pensar em nada para dizer.

E porque Ry nunca deixa ninguém sair de mãos vazias, ele procurou em sua pequena cabana algo para presentear o ladrão, mas não encontrou nada. O assaltante tentava escapar, indo em direção à porta. Finalmente, tio Ry soube o que fazer. Ele tirou seu único roupão, que já estava velho e remendado. “Aqui. Por favor, leve isso”.

O ladrão pensou que meu tio estava louco. Ele pegou o roupão, correu para a porta e escapou pela noite. Meu tio sentou e olhou para a lua, seu brilho prateado espalhado pelas montanhas, tornando tudo quieto e bonito. “Pobre homem”, lamentou meu tio. “Tudo o que eu tinha para dar a ele foi meu roupão remendado. Se eu pelo menos pudesse ter dado a ele esta lua maravilhosa.”

TO BE OR NOT TO BE


Penso, logo desisto!

O MONGE E A VACA



 
Um monge e seu discípulo seguiam caminho pela montanha, em direção a um mosteiro onde permaneceriam por um ano. Com a aproximação da noite, procuraram um lugar onde pudessem pernoitar. Logo adiante avistaram uma casinha i
solada, simples e rústica, onde morava uma família muito pobre. O monge pediu à família um quarto onde pudessem dormir e seguir viagem na manhã seguinte.
O dono da casa, muito solícito, ofereceu um pequeno quarto disponível, mas se desculpou por não ter cama nem nenhum tipo de conforto. Era apenas um chão forrado de palha. O monge disse que só aquilo já estava ótimo. Na manhã seguinte foram tomar o desjejum. À mesa havia apenas um pouco de leite, queijo e um mingau ralo. Novamente o dono casa se desculpou por não poder oferecer uma refeição melhor e o monge respondeu dizendo que, para eles, aquilo era um banquete. Enquanto comiam, o monge perguntou ao dono da casa:
– Neste lugar não há sinais de comércio ou trabalho. De onde vocês tiram seu sustento?
O dono da casa respondeu:
– Ah, temos aqui atrás da casa uma vaquinha milagrosa. Ela nos dá muito leite todos os dias e, com isso, conseguimos fazer queijo, coalhada e mingau. E dessa forma vamos sobrevivendo.
O monge agradeceu a hospitalidade e, junto com o discípulo, seguiram viagem. Haviam andado poucos metros quando o monge parou, deu meia-volta, contornou a casa e soltou a vaquinha do pasto. Levou-a até o precipício e, então, atirou o animal lá de cima. O discípulo, espantado e revoltado com o mestre, exclamou que ele havia acabado com a única fonte de sustento da família que os hospedaram tão gentilmente. O mestre não disse mais nada e, em silêncio, rumaram para o mosteiro.
Passado um ano, o monge e seu discípulo resolveram retornar à cidade e, para isso, teriam que percorrer o mesmo caminho por onde vieram. Descendo as encostas da montanha e com a noite se aproximando, resolveram procurar um lugar para passar a noite. Foram, então, em direção à casinha rústica da família que os hospedara antes. Chegando lá, viram que o lugar estava diferente. A casa da qual lembravam não existia mais. No lugar, um belo casarão, bem pintado e decorado despontava na paisagem, juntamente com diversas carroças e um agradável jardim.
Chamaram pelo dono da casa e este os veio receber. Era o mesmo homem de antes, porém estava mais bem nutrido, feliz e suas roupas não eram os trapos de antes. Acolheu os monges com um largo sorriso e ofereceu-lhes um quarto que, desta vez, era maior, mobiliado e com duas camas confortáveis. Pela manhã, no café, serviram suco, frutas, pães, queijos, ovos e outras guloseimas. Enquanto comiam, o monge perguntou ao dono da casa:
– Neste lugar não há sinais de comércio ou trabalho. De onde vocês tiram todo seu sustento?
O dono da casa respondeu:
– Ah, ocorreu uma tragédia conosco há um ano. Nossa vaquinha leiteira, única fonte de sustento da família, se soltou do pasto e caiu no precipício. Entramos em grande aflição e nos vimos obrigados a procurar outras formas de nos manter. Assim, aprendemos a plantar e cultivar diversas frutas e hortaliças, começamos a fazer produtos próprios e comercializá-los lá na cidade. Assim, graças à perda da nossa vaquinha, hoje temos uma vida muito melhor do que antes.
E você, tem alguma "vaquinha" te limitando?

O cordeiro que não era cordeiro





O monge visitara o povoado e voltava com um cordeiro nas costas, pelo caminho pedregoso. Era um animal escolhido com rigor para o sacrifício e, como tal, sagrado. Era assim que raciocinava o monge, mas três espertallhões das redondezas viram no cordeiro apenas um bom almoço gratuito. Estudaram um plano e ocuparam três lugares na estrada que ia subindo, subindo, ficando cada vez mais íngreme e difícil.
Quando o monge passava, o primeiro espertalhão indagou:
- Bom dia, monge! Como foi que o seu cachorrinho se machucou?
O monge, ainda preso na satisfação do bom negócio que havia feito, respondeu:
- Qual cachorro?
- Ora, esse que está em suas costas.
- Isso não é um cão, mas um cordeiro para o sacrifício.
- Que nada! Está na cara que é um cachorro. Acho que o monge entende de rezas, mas não de carneiros e cachorros.
- Isso é um cordeiro, já disse!
- Ora, deixe de ser orgulhoso e presunçoso, seu monge. Seu papel é manter a felicidade do mundo, por meio de orações. Cabe aos humanos mortais cuidar dos animais.
O monge não ligou, sacudiu os ombros e seguiu adiante. Logo mais, um pouco cansado pela estrada que somente subia e subia, encontrou o segundo gatuno que foi logo interpelando:
- Nossa, monge, que cachorrinho mais bonito. Se quiser, podemos fazer negócio, pois esse animal poderá ter um grande futuro como pai de muitas ninhadas.
O monge ficou intrigado. Disse que era um cordeiro, mas não convenceu o pilantra. Então, colocou o animal no chão, examinou, analisou a lã, cutucou para ver o animal fizesse mééé-mééé, ao invés de au-au-au, mas nada aconteceu. O larápio insistiu:
- Quando chegar ao convento, esse esperto animal irá correr atrás de gatos e, então, seus olhos se abrirão para a verdade da vida. Nem tudo é o que nós pensamos, pois a verdade está sempre muito bem escondida. Acho que o ilustrado monge comprou um gato por lebre, só isso.




O monge, já meio aborrecido, colocou o animal nos ombros e prosseguiu a jornada, com o espírito meio vacilante, pois – de fato – o mundo é cheio de armadilhas.
Perto da curva rochosa, surge o terceiro impostor, apostando no cansaço do monge:
- Nossa, bom monge, que lindo cãozinho você está carregando nessa montanha tão difícil. Por que não o solta para ele ir caminhando atrás, como todo bom cachorro?
O monge triscou os dentes, pois tantas coincidências já eram demais e respondeu meio raivoso:
- Isso não é um cachorro; não é mesmo! Isso é um cordeiro.
- Tá bom, tá bom, não precisa se aborrecer. Aquilo também não é uma montanha; isso aqui não é uma estrada cheia de pedras e buracos; o que escorre em seu rosto não é suor e, com certeza, os outros monges também vão acreditar que isso aí é outro bicho e não um cachorrinho.
Novamente, o monge, já meio cansado, colocou o animal no chão, olhou, olhou, apalpou, tinha certeza que era um cordeiro, mas o ladrão esperto arrematou:
- Ora, monge, antes de chegar ao convento, tire as dúvidas com mais gente. Lembre-se que a deusa Maya prega a ilusão o tempo todo para testar nossos sentidos. A gente pensa que está no certo e está no errado. Afinal, uma pessoa pode errar; duas já é difícil e três é quase impossível. Pergunte para três pessoas e todas dirão que isso aí é um belo cachorrinho. O monge ficou cismado, pois já havia encontrado três pessoas e todas haviam dito que estava levando um cão e não um cordeiro.
O monge, já estafado pela árdua subida, escutou a tacada final:
- É tão bom saber que os monges estudam os textos sagrados, deixando para nós, mortais comuns, a tarefa de lidar com ovelhas, cabras, vacas e tudo o mais. Cada coisa em seu lugar: a santidade no convento e o mundo das coisas de pequeno valor aqui do lado de fora.
O monge compreendeu, então, que tudo fora uma ilusão e que ele deveria se fixar apenas no mundo das coisas santas, deixando as coisas profanas para as pessoas comuns. Colocou as mãos sobre o cordeiro, fez uma oração, agradecendo o tempo que passaram juntos pela vida e, depois, voltou alegremente para o convento.
Os três ladrões pegaram o cordeiro que, no dia seguinte, serviu para um saboroso almoço.

Moral: uma mentira, se repetida muitas vezes, com convicção, pode ser transformada em verdade, pelos espertalhões, enganando as pessoas simples.

Sânias e neo-sânias:





Primeiramente, quero explicar como fiz a escritura desta palavra, que apareceu no Ocidente através do inglês - sannyas. Usei meu ouvido, meus conhecimentos em lingüística e escrevi o som da palavra dito por indianos em Puna. A Índia está reavendo seu direito de dizer como suas palavras são pronunciadas lá, na língua oficial deles, não mais com a interferência dos colonizadores ingleses. É possível que daqui surja um glossário de palavras que ainda não existam no nosso dicionário, mas que estão muito faladas pelos brasileiros, pois vamos aos montes à Índia.

Sânias é um discipulado. Esta palavra também tem um sentido usual que não corresponde ao original - chamamos alunos de discípulos, e professor de mestre. O resultado é muito feio, distorcido, mas é o que fazemos à revelia, no Ocidente.

Mestre é alguém que indica um caminho de compreensão; discípulo é alguém que, tendo compreendido, segue sua própria compreensão. Para que isso, tão simples, se dê, é necessário que haja uma entrega inicial por parte de quem se sente preparado para ser discípulo - coisa muito rara, principalmente no mundo atual, onde até as mulheres reivindicam seus direitos de não curvar a cabeça. Interessante: eu não curvo a minha. Mas, quando deparei-me com um Mestre verdadeiro, a quem procurei por tantas vidas, a minha cabeça curvou-se e houve uma entrega.

Mas por que "neo-sânias"? Eis a grande questão.

Osho é uma revolução no mundo da iniciação. E isso tem a ver com o fato de Ele não ser um iôgue, mas um Mestre do relaxamento, do let-go.

São dois os caminhos de evolução: o do Iôga e o do Tantra - o do esforço e o do relaxamento-entrega. Segundo tenho compreendido, depois de muito esforço chega-se ao relaxamento, ao Tantra. Osho reverte esse ensinamento que não deu muitas chances de evolução ao homem e começa pelo fim, pelo Tantra: "Se temos que relaxar, por que não começar relaxando?".

Quem ou o que impede o homem de relaxar, se ele nasceu relaxado? Eis outra grande questão. Como foi que nos esquecemos de nossa natureza? Que interesses nos tornaram máquinas - doentes, porque não somos máquinas -, rígidas, sofredoras? Será que só podemos ser educados dessa maneira? O que falta na nossa educação para que nos tornemos humanos e adultos?

Parece que agora teremos que resolver estas questões, pois são 6 bilhões de pessoas num planetinha... por enquanto...

Pois podemos contar com a clareza de visão do Mestre Osho para nos ajudar a enxergar no escuro. À medida que as pessoas forem sabendo qual é a fonte das grandes idéias que têm sido captadas e propagadas por várias pessoas ao redor do mundo, talvez a nossa inteligência se abra para receber o coração do Homem que mais amou os homens nos tempos modernos - Ele deu toda a Sua vida a essa pesquisa e foi muito bem sucedido. Pessoas de todas as partes do mundo estão se beneficiando com o Seu ensinamento - o testemunhar.

Meu desejo é que todos os homens comuns, como eu, possam entrar em contacto com o ser dentro deles mesmos. Não há nada fora, está tudo dentro, o mal e o bem.

Osho diz:

"Meu trabalho é basicamente para aquelas pessoas que simplesmente deram um salto, que não perguntaram por quê, que simplesmente olharam em meus olhos e sentiram um louco desejo, um louco anseio de ir comigo sem saber aonde isso irá terminar."

Osho A Sabedoria das Areias. Ed Gente. 1999,
(O Homem Com a Vida Inexplicável, vol. II, p. 137)

QUANDO AMAR SIGNIFICA SOFRER



M.A.D.A.(MULHERES QUE AMAM DEMAIS):

“Quando amar significa sofrer, estamos amando demais. Quando grande parte de nossa conversa com amigas íntimas é sobre ele, os problemas, os pensamentos, os sentimentos dele  e aproximadamente todas as nossas frases se iniciam com “ele”, estamos amando demais. Quando desculpamos sua melancolia, mau humor, indiferença ou desprezo como problemas devidos a uma infãncia infeliz, e quando tentamos nos tornar sua terapeuta, estamos amando demais. Quando lemos um livro de auto-ajuda e sublinhamos todas as passagens que pensamos que irão ajudá-lo, estamos amando demais. Quando não gostamos de muitas de suas características, valores e comportamentos básicos, mas toleramos pacientemente, achando que, se ao menos formos atraentes e amáveis o bastante, ele irá se modificar por nós, estamos amando demais. Quando o relacionamento coloca em risco nosso bem-estar emocional, e talvez até nossa saúde e segurança física, estamos definitivamente amando demais.”

Trecho do livro “Mulheres que amam demais”, de Robin Norwood, Editora Siciliano.

Caso você ache que tem um problema de dependência emocional de pessoas ou de homens, talvez você precise de ajuda especializada. Recomendo a leitura do livro acima e  uma visita ao site das “mulheres que amam demais anônimas” – http://www.grupomada.com.br

Lembre-se: Um relacionamento, para dar certo, deve acontecer entre dois parceiros que compartilhem valores, interesses e objetivos semelhantes, e que possuam ambos capacidade para serem íntimos. Saiba que você é digna de amor, consideração e respeito ou seja, você merece o melhor que  vida tem a oferecer.

SER LEVE...

Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo o que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas.
Daqui para frente apenas o que couber no bolsa e no coração.
Cora Coralina

É ASSIM...


Estou desconfiada de que a gente cresce quando começa a aprender, com o sentimento, muito além da retórica, a não permitir que uma desilusão ou outra nos afaste de nós mesmos e nem dos nossos sonhos mais bonitos. Estou desconfiada que a gente cresce quando é capaz de entender que estar vivo é perigoso, sim, é trabalhoso, sim, mas também é uma oportunidade rara e imperdível.

Ana Jácomo

POEMA SUFI


Esquece o mundo e comanda o mundo.
Sê a lâmpada, o barco salva-vidas,
a escada.

Sai de tua casa e, como o pastor,
ajuda a curar a alma do teu próximo.
Entra no fogo espiritual
e deixa-te calcinar.

Sê o pão bem assado, sê o senhor da mesa.
Vem, sacia teus irmãos.
Tu, que tens sido a fonte da dor,
sê agora o deleite.

Viveste como uma casa sem alicerces.
Sê agora o Um que perscruta
o interior do invisível.

Assim que me calei,
uma voz chegou aos meus ouvidos:
"Se te tornas isto, serás aquilo."

Silêncio!
E depois mais silêncio.
Não uses a boca para falar.
A boca é para provar dessa doçura.

JALAL AL-DIN RUMI


Ao encararmos a nós mesmos

Algum dia, em qualquer parte,
em qualquer lugar,
indefetivelmente,
encontrar-te-ás a ti mesmo
e essa, só essa,
pode ser a mais feliz
ou a mais amarga
das tuas horas.

Pablo Neruda

MINHA ORAÇÃO É O SILÊNCIO

 
Se você for ao templo e sua oração se tornar um desejo, ela jamais será ouvida, pois uma oração só é possível quando o desejo não estiver presente. Um desejo jamais pode se tornar uma oração. Se você pedir algo, você perderá; não estará orando. E Deus sabe quais são suas necessidades.

Havia um santo Sufi, Bayazid, que costumava dizer sempre: “Deus sabe do que preciso, por isso nunca orei — porque é tolice! O que dizer a Ele?Ele já sabe. Se eu digo algo que Ele já sabe, é tolice. Se tento achar algo que Ele não sabe, também é tolice. Como é que você pode pensar uma coisa dessas? Por isso, simplesmente nunca me preocupei. Tudo que preciso, Ele sempre me dá”.

Mas, naquela época, ele era muito pobre, faminto, rejeitado na cidade por onde passava. Ninguém estava disposto a lhe dar um abrigo para a noite. E a noite estava escura e ele estava sentado sob uma árvore; fora da cidade era perigoso.

E um discípulo disse: “O que dizer dessa situação? Se Ele sabe que Seu amado Bayazid está em tal apuro — que a cidade o rejeitou, que está com fome e sem comida, sentado sob uma árvore, com animais selvagens à volta, sem poder dormir — de que tipo de Deus você está falando, que sabe de tudo que você necessita?”

Bayazid sorriu e respondeu: “Ele já sabe que é isto o que preciso neste momento. Esta é a minha necessidade! De outra forma, como? — porque eu deveria estar assim? Deus sabe quando você necessita da pobreza”, disse Bayazid, “e quando você necessita da riqueza. E Deus sabe quando você precisa jejuar e quando você precisa participar de um banquete. Ele sabe! E esta é minha necessidade neste exato momento”.

Você não pode pedir. Se o fizer, não lhe será concedido. No próprio pedir, você prova que não é capaz de recebê-lo.

A oração deveria ser silenciosa. O silêncio é a oração. Quando as palavras chegam, os desejos imediatamente as sucedem — porque as palavras são o veículo do desejo. No silêncio, como você pode desejar? Já tentou? No silêncio você pode desejar alguma coisa?

Como pode desejar, estando em silêncio? A linguagem será necessária, todas as linguagens pertencem ao reino do desejo. Daí a insistência, de todos os que sabem, a respeito de permanecer em silêncio, porque somente quando não há palavras na sua mente é que o desejo cessa; de outro modo, o desejo estará escondido atrás de cada palavra.

Osho, em “Antes que Você Morra”

QUEM É VOCÊ?



A mente é passado, é memória, todas as experiências acumuladas num certo sentido. Tudo o que você já fez, tudo o que já pensou, tudo o que já desejou, tudo o que já sonhou – tudo, seu passado inteiro, sua memória – mente é memória. E a menos que se livre da memória, você não conseguirá dominar a mente. Como se livrar da memória? Ela está sempre ali, seguindo você. Na verdade, você é a memória, então como se livrar dela? Quem é você sem as suas lembranças? Quando eu pergunto“Quem é você?” você me diz seu nome – isso é uma lembrança. Seus pais lhe deram um nome um tempo atrás. Eu pergunto “Quem é você?” e você me fala de sua família, do seu pai, da sua mãe – isso é uma lembrança. Eu pergunto “Quem é você?” e você me conta o que estudou, seu nível de instrução, que fez mestrado em Artes ou que tem doutorado ou que é engenheiro ou arquiteto. Isso é uma lembrança. Quando eu pergunto“Quem é você?” se você de fato olhar para dentro, só terá uma resposta:“Não sei”. Tudo o que disser será apenas uma lembrança, não você de verdade. A única resposta verdadeira, autêntica, só pode ser “Não sei”pois conhecer a si próprio é a última coisa que você faz. Eu posso dizer quem sou, mas não digo. Você não pode dizer quem é, mas se apressa em dar a resposta. Aqueles que sabem quem são, guardam silêncio sobre isso. Pois, se toda a memória for descartada e toda a linguagem for descartada, então quem eu sou não pode ser dito. Eu posso olhar dentro de você, posso dar a você um gesto, posso ficar com você, com todo o meu ser – essa é a minha resposta. Mas a resposta não pode ser expressa em palavras, pois tudo que é expresso em palavras faz parte da memória, da mente, não da consciência.  Como se livrar das lembranças? Observe-as, testemunhe-as. E lembre-se sempre: “Isso aconteceu comigo, mas isso não sou eu.” É claro que você nasceu numa determinada família, mas isso não é você, aconteceu com você, é um acontecimento externo a você. Alguém lhe deu um nome, você o tem usado, mas ele não é você. É claro que você tem uma forma, mas a forma não é você, ela é só a casa em que por acaso você está. A forma é só o corpo em que por acaso você está. E o corpo lhe foi dado por seus pais – é uma dádiva, mas não é você. Observe e tenha discernimento. Isso é o que no Oriente chamam de discernimento – você usa o tempo todo a sua capacidade de discernir. Continue fazendo isso – chegará um momento em que você terá eliminado tudo o que não é você. De repente, nesse estado, você se olha pela primeira vez e encontra seu próprio ser. Continue jogando fora todas as identidades que não são você – a família, o corpo, a mente. Nesse vazio, quando tiver jogado fora tudo o que não for você, de repente seu ser vem à tona. Pela primeira vez você encontra si mesmo, e esse encontro passa a ser o domínio. MESTRE OSHO (Livro: “Consciência – A Chave para Viver em Equilíbrio”)

Por que existe vida? (OSHO)






Por que existe vida? (OSHO)
Osho,

Eu nunca fui capaz de encontrar resposta para uma pergunta. É uma pergunta estúpida, mas mesmo assim eu queria muito saber a resposta. Você poderia nos dizer qual é o propósito da criação? Por que a vida existe? Por que todas as coisas existem? Eu não acredito em acidentes.



Prem Patrick,

A pergunta é certamente estúpida... Você está absolutamente certo a respeito disso. E a pergunta não é respondível. Qualquer pessoa que respondê-la irá somente criar alguns questionamentos a mais em você. Você não foi capaz de encontrar qualquer resposta porque não existe resposta. A vida é um mistério, por isso essa pergunta não pode ser respondida. Você não pode perguntar o porquê. Se o porquê for respondido, a vida deixa de ser um mistério.

Esse é todo o esforço da ciência: destruir o mistério da vida. E a maneira é encontrar respostas para todos os porquês. E a ciência acredita, naturalmente com arrogância e ignorância, que um dia ela será capaz de responder a todos os porquês. Isso não é possível. Mesmo se nós respondermos a todos os porquês, o último dos porquês permanecerá: por que a vida existe, afinal? Qual o significado da existência? Qual é o propósito de tudo isso? Essa pergunta é a última e ela não pode ser respondida.

Se alguém lhe der uma resposta, ela simplesmente irá criar um novo questionamento. E respostas já têm sido dadas... Algumas pessoas acreditam que Deus criou o mundo porque queria ajudar a humanidade. Agora, que tipo de resposta é essa? Ele criou a humanidade para ajudar a humanidade. Qual era a necessidade de criar? Alguns outros dizem que Deus criou o mundo porque ele estava se sentindo muito solitário. Se Deus estava se sentindo mal muito só, então não existe qualquer possibilidade de alguém se tornar um Buda. E se Deus de repente começou a se sentir solitário, então o que ele estava fazendo antes de criar o mundo? Por toda a eternidade ele tem estado só... então de repente , num dia, numa manhã, ele ficou enlouquecido, ou o que? De repente ele começou a se sentir solitário depois do almoço. E qual era a necessidade de criar todo o mundo? Apenas uma mulher já teria sido o suficiente! E agora, como ele está se sentindo hoje? Muito cheio de gente? Gente em demasia pelas ruas? Deve estar planejando destruir o mundo em breve. Sobre que tipo de Deus você está falando? O seu Deus é uma pessoa que pode se sentir solitário?

Todas essas são respostas tolas para perguntas tolas.

Então existem pessoas que dirão: isso é um jogo de Deus, a sua brincadeira. Ele não poderia ter ficado sentado em silêncio? Que espécie de jogo é esse? Adolf Hitler e Mussolini e Joseph Stalin e Mao-Tse-Tung, Gengis Khan, Tamurlaine, Nadir Shah... Brincadeira de Deus? Seis milhões de judeus assassinados por Adolf Hitler, e Deus está brincando com um jogo? Por que ele não vai jogar golfe? ou xadrês? Por que torturar pessoas? Tanta miséria no mundo e esses tolos seguem dizendo que isso é brincadeira de Deus? Crianças que nascem paralíticas, cegas, surdas, mudas... Brincadeira de Deus? Que espécie de Deus é esse? Ou ele não é Deus, ou pelo menos ele não é divino. Ele deve ser muito mau.

Essas perguntas não ajudam. Elas criam mais perguntas. Patrick, o máximo que eu posso dizer é que a vida não tem propósito algum, ela não pode ter qualquer propósito. Todos os propósitos estão no meio da vida. Sim, um carro tem um propósito: ele pode levá-lo de um lugar ao outro. O alimento tem um propósito: ele pode nutri-lo, ele pode mantê-lo vivo. Uma casa tem um propósito: ela pode lhe dar abrigo quando está chovendo e quando está quente. As roupas têm propósito... Todos os propósitos estão dentro da vida, mas a vida em si mesma não pode ter qualquer propósito porque ela não é um meio para algum fim. Um carro é um meio, a casa é um meio. A vida não tem qualquer objetivo, a vida não está indo para lugar algum. A vida está simplesmente aqui! Ela nunca foi criada. Esqueça essa idéia de criação. Isso cria muitas perguntas estúpidas na mente. Ela nunca foi criada, ela sempre esteve aqui e ela sempre estará aqui. Com formas diferentes, de maneiras diferentes, a dança continuará. Ela é eterna. Ais dhammo sanantano - assim é a lei última.

Não há qualquer propósito e essa é a beleza da vida. Se houvesse alguns propósitos, então a vida não seria tão bonita, então haveria uma motivação, então ela seria como um negócio, então ela seria muito séria. Olhe para as rosas, para as flores de lótus, para os lírios. Qual o propósito? O lótus de manhã cedo, o sol nascendo, o cuco começando a cantar...Qual o propósito? Isso não é intrinsecamente lindo? Todas as coisas precisam de propósitos fora de si mesmas?

A vida é intrinsecamente linda. Ela não tem qualquer propósito extrínseco. Ela não é propositada. Ela é exatamente como uma canção de um pássaro na escuridão da noite, ou o som da água, ou o som do vento passando através dos pinheiros...

O homem é voltado para objetivos. E porque a sua mente é voltada para objetivos, ela cria perguntas como esta: "Qual o objetivo da vida? Deve haver algum objetivo." Mas se alguém disser, "esse é o objetivo da vida", então você irá perguntar: "Qual o objetivo desse objetivo? Por que nós devemos alcançá-lo? A que propósito ele irá servir?" E se alguma outra pessoa disser "Esse é o objetivo desse objetivo", as mesmas perguntas irão surgir novamente e você vai voltar ao mesmo ponto, ad infinitum.

Você me pergunta: "Você poderia nos dizer qual é o propósito da criação?"

O mundo nunca foi criado. A palavra "criação" não é correta. O mundo sempre esteve aqui, ele é eterno. Não existe criador. Deus não é o criador do mundo. Deus é a própria energia criativa da existência. É mais criatividade do que um criador. Ele não é o poeta, mas sim a poesia; não o dançarino, mas a dança; não a flor, mas a fragrância.

Você me pergunta: "Por que a vida existe?"

Essas perguntas parecem muito filosóficas, e podem torturá-lo muito, mas elas são absurdas. É como perguntar "Qual o sabor da cor verde?" Isso é irrelevante. A cor verde não tem qualquer sabor. Cor e sabor não estão relacionados absolutamente. "Por que a vida existe?" Veja que as palavras "vida" e "existência" significam a mesma coisa. Isso é tautologia. Você está perguntando: "Por que a vida é vida?" Assim fica mais claro para você. Mas quando você pergunta "Por que a vida existe?", as palavras enganam você.

Você está perguntando "Por que a vida é vida?". Você está perguntando "Por que uma rosa é uma rosa?" Você ficaria satisfeito se uma rosa fosse uma margarida? Então você poderia perguntar "Por que uma margarida é uma margarida?" De que maneira você fica mais satisfeito?

Se a vida não existir, você ficará mais satisfeito? Simplesmente imagine você mesmo sem o corpo, sem a mente, um fantasma perguntando "Por que a vida não existe? O que aconteceu com a vida? Por que ela desapareceu?". Essas perguntas sempre irão persistir e perseguir você.

A vida é um mistério. Não existe qualquer porquê, qualquer propósito, qualquer razão. Ela está simplesmente aqui. Aproveite-a ou abandone-a, mas ela está simplesmente aqui. E estando ela aqui, por que não aproveitá-la? Por que desperdiçar seu tempo filosofando? Por que não dançar, cantar, amar e meditar? Por que não se aprofundar mais e mais nessa coisa chamada "vida"? Talvez no centro mais profundo você irá saber a resposta. Mas a resposta vem de uma tal maneira que ela não pode ser expressada. É como um homem mudo que experimenta açúcar. É doce, ele sabe que é doce, mas ele não consegue falar.

Os Budas sabem, mas eles não conseguem dizer. E os idiotas não sabem e seguem falando, seguem dando respostas a você. Os idiotas são muito espertos nesse sentido de encontrar, de fabricar, de manufaturar respostas. Faça qualquer pergunta e eles terão uma resposta para você.

Quando Gautama Buda costumava viajar por este país de um lugar a outro, alguns poucos discípulos iam à frente e anunciavam na cidade: "Buda está chegando, mas por favor não façam aquelas onze perguntas". E uma daquelas onze perguntas era "Por que a vida existe?". Uma outra era "Quem criou o mundo?" Naquelas onze perguntas, toda a filosofia estava contida. Na verdade, se você abandonar aquelas onze perguntas, nada sobra para ser perguntado. Buda costumava dizer que essas eram perguntas inúteis. Elas não eram respondíveis, não porque ninguém soubesse a resposta. Elas eram irrespondíveis pela própria natureza das coisas.

Um grande filósofo, Maulingaputta, veio até Buda e começou a fazer algumas perguntas... Perguntas após perguntas. Buda ouviu silenciosamente por meia hora. Maulingaputta começou a se sentir um pouco embaraçado porque Buda não estava respondendo, ele estava simplesmente sentado ali, sorrindo, como se nada tivesse acontecido, e ele havia formulado perguntas tão importantes, tão significativas.

Finalmente Buda disse: "Você realmente quer saber a resposta?"

Maulingaputta disse: "Se eu não quisesse, por que eu teria vindo até você? Eu viajei pelo menos mil milhas para vê-lo"..."Por que eu teria vindo de tão longe? Foi um longo sofrimento. Parece que eu estive viajando por toda a minha vida! E você está perguntando se eu realmente quero saber a resposta?"

Buda disse: "Eu estou perguntando de novo: você realmente quer a resposta? Diga sim ou não, porque irá depender muito disso".

Maulingaputta disse "Sim!"

Então Buda disse: "Por dois anos sente-se silenciosamente ao meu lado, não pergunte, não questione, não converse, simplesmente sente-se silenciosamente por dois anos ao meu lado. E após dois anos você poderá perguntar o que você quiser e eu prometo que irei respondê-lo."

Um discípulo, um grande discípulo de Buda, Manjusri, que estava sentado na sombra de uma outra árvore, começou a rir muito alto e começou a rolar pelo chão. Maulingaputta disse: "O que aconteceu com esse homem? Você está falando comigo, você não dirigiu uma simples palavra a ele, ninguém disse nada para ele... Estará ele contando piadas para si mesmo?"

Buda disse: "Vá lá e pergunte a ele".

Ele perguntou a Manjusri. Manjusri disse"Senhor, se você quiser realmente fazer a pergunta, faça-a agora. Essa é a maneira dele enganar as pessoas. Ele me enganou. Eu costumava ser um filósofo tolo, exatamente como você. A resposta dele foi a mesma quando eu cheguei. Você viajou mil milhas e eu havia viajado duas mil milhas."

Manjusri era certamente o maior filósofo, o mais conhecido do país. Ele tinha milhares de discípulos. Quando ele chegou, com ele vieram mil discípulos. Um grande filósofo chegando com seus seguidores.

E Buda disse, "Sente-se silenciosamente por dois anos." E eu me sentei silenciosamente por dois anos, mas então eu não podia fazer uma pergunta sequer. Aqueles dias de silêncio... Devagar, devagar, todas as perguntas foram se desfazendo. E uma coisa eu vou dizer a você: ele manteve sua promessa, ele é um homem de palavra. Após os exatos dois anos, eu tinha me esquecido completamente, eu tinha perdido a noção do tempo, por que quem vai se preocupar em lembrar? Na medida em que o silêncio ficou mais profundo, eu perdi toda a noção de tempo."

"Quando os dois anos se passaram, eu nem estava me dando conta disso. Eu estava curtindo o silêncio e a presença dele. Eu estava bebendo a presença dele. E isso foi tão incrível. Na verdade, no fundo do meu coração eu não queria nunca que aqueles dois anos fossem concluídos, porque uma vez que eles se concluíssem, ele iria dizer: "Agora ceda o lugar para alguma outra pessoa sentar ao meu lado, e você afaste-se um pouco. Agora você já é capaz de estar só, você não precisa tanto de mim. Exatamente como uma mãe afasta a criança quando ela pode comer e digerir por si mesma e não precisa mais se alimentar do peito materno. Assim, Manjusri disse, eu estava esperando que ele se esquecesse de toda essa história a respeito dos dois anos, mas ele se lembrou. Exatamente após os dois anos, ele me disse: "Manjusri, agora você pode formular as suas perguntas". Eu olhei para dentro de mim e não havia nenhuma pergunta, nem ninguém para formular perguntas, era um silêncio total. Eu ri, ele riu, ele deu um tapinha nas minhas costas e disse, "Agora, afaste-se um pouco."

"Assim, Maulingaputta, é por isso que eu comecei a rir, porque agora ele está de novo aplicando o mesmo golpe. E esse pobre Maulingaputta vai se sentar por dois anos silenciosamente e vai se perder para sempre, nunca mais será capaz de formular uma pergunta sequer. Por isso, Maulingaputta, eu insisto: se você quer realmente perguntar, pergunte agora!"

Mas, Buda disse: "Minhas condições têm que ser atendidas."

Então, Patrick, a minha resposta para você é a mesma: atenda às minhas condições, medite, sente-se silenciosamente, simplesmente esteja aqui e todas as perguntas irão desaparecer. Eu não estou interessado em respondê-lo. Eu estou interessado em dissolver as suas perguntas. E quando todas as perguntas desaparecerem, aquele que pergunta também desaparecerá, ele não pode existir sem as perguntas. Quando nenhuma pergunta mais existir, nem aquele que pergunta... quantas bênçãos, quanto êxtase! Neste exato momento, você nem pode imaginar, você nem pode sonhar, você nem pode compreender. Então, todo o mistério da vida se abrirá, mistérios e mais mistérios... e isso não tem fim.

OSHO - The Book of the Books - Discourse n. 10 - 2nd question

O ser humano está condenado a ser livre




 Jean-Paul Sartre

Segundo Jean-Paul Charles Aymard Sartre, filósofo francês nascido em 1905, o ser humano é livre e nada o força a fazer o que faz. Quando citou “nós estamos sozinhos, sem desculpas“, passa para nós a condição de seres conscientes e culpados pelas suas ações e merecedor das consequências. Portanto, não é real para ele o tão comum “eu não tinha outra escolha“. Diria hoje a algumas nações: “Detesto as vítimas quando elas respeitam os seus carrascos“, talvez pelo desprezo destas (nações e vítimas) pela liberdade. As principais idéias deste existencialista podem ser encontradas no livro “O ser e o nada“, publicado em 1943.

Sequestrada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em 2002 quando participava das campanhas presidenciais, Ingrid Betancourt foi mantida em cativeiro até julho de 2008. Filha de pai senador com mãe miss Colômbia, Ingrid foi criada na França e teve o privilégio de conviver socialmente com o poeta Pablo Neruda, o escritor Gabriel García Márquez e o pintor Fernando Botero. Ao ser resgatada, disse: “Melhor morrer tocando a liberdade por alguns segundos do que morrer baleado pelas FARC“. Incrível como alguém que já teve tudo o que a sociedade tanto preza termine por valorizar algo tão simples e gratuito. Será mesmo?

O citado Pablo Neruda escreveu:

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor,
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco,
e os pontos sobre os is em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho nos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da má sorte
ou da chuva que cai incessante.

Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar.

Terá a liberdade algo a ver com isso? Creio que sim. Acredito também que ela se aproxime quando as máscaras sociais são jogadas, permitindo assim sentirmos o calor do sol de um jeito único. É deixar a maquiagem de lado, fechar os olhos e perceber que a  pele respira melhor assim. Esta parte pode parecer direcionada para uma drag-queen, mas não é. Serve para todo mundo que se maqueia de um jeito ou de outro.

Poderia citar aqui as guerras fabricadas com base numa falsa liberdade, mas não vou, prefiro um exemplo positivo. William Wallace foi um lavrador escocês que tranformou-se num guerreiro para no século XIV lutar contra a dominação inglesa. Sua história foi contada no belíssimo filme Coração Valente, vencedor de 5 Oscars, no qual a interpretação de Mel Gibson nos transmite uma idéia de quanto vale ser livre, de quanto este sentimento é puro e belo. Morto pelo exército do rei Eduardo I, Wallace inspirou ainda mais seus compatriotas na luta pela independência da Escócia que foi alcançada alguns anos depois.

E para quem quer sempre mais, as palavras da escritora Clarice Lispector em seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, concluem este post:

“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”.

(fonte:http://www.factivel.com.br/blog/ruth/)

Tantra - A Suprema Compreensão


Transcender a dualidade é visão soberana.

Dominar abstrações é prática régia.

A trilha da não-prática é o caminho de todos os Budas.

Quem pisa essa trilha alcança o estado de Buda.

Transitório é este mundo;

como fantasmas e sonhos ele não tem substância alguma.

Renuncia a ele, abandona teus parentes,

corta os laços da luxúria e do ódio,

e medita em bosques e montanhas.

Se, sem esforço,

permaneceres desprendidamente em estado natural,

logo Mahamudra conseguirás,

e obterás a não-obtenção.


Há dois caminhos. Um é o caminho do guerreiro, do soldado; o outro é o caminho do rei, o Caminho Real. A Ioga é o primeiro, e o Tantra é o segundo. Portanto, precisas conhecer, primeiro, o que é o caminho do soldado, do guerreiro e, só então, poderás compreender o que Tilopa quer dizer quando se refere ao Caminho Real.
Um soldado tem de lutar, polegada por polegada; um soldado tem de ser agressivo, um soldado tem de ser violento; o inimigo deve ser destruído, ou conquistado

A Ioga tenta criar um conflito dentro de ti. Oferece-te nítida distinção entre o que é errado e o que é certo, o que é bom e o que é maus, o que pertence a Deus e o que pertence ao diabo. E quase todas as religiões, exceto Tantra, seguem o caminho da Ioga. Dividem a realidade e criam um conflito interior; através desse conflito, prosseguem.




Por exemplo, tens ódio em ti. O caminho do guerreiro é destruir o ódio interior. Sentes cólera, ganância, desejo sexual e milhões de coisas - o caminho do guerreiro é destruir tudo o que é errado, negativo, e desenvolver tudo quanto seja positivo e certo. O ódio deve ser destruído e o amor, desenvolvido. A cólera deve ser completamente destruída e a compaixão, criada. O sexo deve se afastar e dar lugar ao brahmacharya, ao puro celibato. A Ioga imediatamente corta-te com uma espada em duas partes: o certo e o errado; e o certo deve vencer o errado.



Que farás? A cólera está em ti - que sugere a Ioga que faças? Sugere que cries o hábito da compaixão, que cries o oposto, que o tornes tão habitual a ponto de começares a funcionar como um robô - daí ser chamado o caminho do soldado. Por todo o mundo, através da história, o soldado tem sido treinado para uma existência de robô: tem de criar hábitos.



Os hábitos funcionam sem a consciência, não precisam de percepção; podem mover-se sem ti. Se tens hábitos - e toda a gente os tem - podes observar isso. Um homem tira seu maço de cigarros do bolso - observa-o - ele pode não estar consciente do que está fazendo. Tal como um robô, ele procura o bolso. Se ele estiver intimamente inquieto, imediatamente sua mão irá até o bolso, apanhará um cigarro, começará a fumar. Certamente atirará fora a parte que resta; pode ter realizado todos esses gestos sem ter consciência de que os estava realizando.



Ensinamos ao soldado uma existência de robô. O soldado tem de fazer e obedecer; não precisa estar consciente. Quando recebe ordem para virar à direita, tem de virar; não pode pensar se deve ou não virar, porque, se começar a pensar, então será impossível, as guerras não poderão continuar neste mundo. Pensar não é necessário, nem a consciência é necessária. O soldado deve, apenas, ter a percepção suficiente para entender as ordens; é tudo. Um mínimo de percepção: a ordem é dada, e, imediatamente, como um mecanismo, ele a está cumprindo. Não que ele se volte para a esquerda, quando lhe ordenam que se volte para a esquerda - apenas ouve e volta-se. Não está se voltando; cultivou aquele hábito. Está, apenas, acendendo ou apagando a luz - apenas um botão e a luz se acende. Dizem: - “Virar à esquerda!”, o botão é apertado e o homem se move para a esquerda.



William James contou que, certa vez, estava sentado num café e um velho soldado da reserva - na reserva havia mais de vinte anos - ia passando com uma cesta de ovos. Subitamente, William Jones fez uma brincadeira. Gritou “Atenção!” e o pobre homem parou, na posição comandada. Os ovos caíram-lhe da mão e se quebraram. Ele ficou muito zangado, veio correndo e disse - “Que tipo de brincadeira é essa?”



Mas William James argumentou: - “Não precisas obedecer. Todo mundo é livre para gritar ‘atenção’. Não és forçado a atender. Quem te disse que atendesses? Devias ter seguido teu caminho.”



Disse ao homem: - “Isso não é possível, porque é automático. Já há vinte anos estou fora do meio militar, mas o hábito está profundamente enraizado.” Mediante muitos anos de treinamento, um reflexo condicionado é criado.



A expressão “reflexo condicionado” é boa. Foi criada por um psicólogo russo, Pavlov. Diz que simplesmente refletes; alguém atira algo em teus olhos, nem pensas em piscar ou fechar os olhos, e eles simplesmente fecham-se. Uma mosca vem voando e fechas os olhos; não precisas pensar, não há necessidade: é um reflexo condicionado - acontece, simplesmente. Está nos hábitos do teu corpo, em teus ossos. Acontece, simplesmente! Nada pode ser feito contra isso.



O soldado é treinado para existir como um robô. Deve existir através de reflexos condicionados. O mesmo se dá na Ioga. Tu te zangas e a Ioga diz: - “Não fiques zangado, é melhor que cultives o oposto, a compaixão.” Aos poucos, tua energia começa a mover-se no hábito da compaixão. Se perseverares por um longo tempo, a cólera desaparecerá completamente e tu sentirás compaixão. Mas estarás morto, não vivo. Serás um robô, não um ser humano. Terás compaixão, não porque tenhas compaixão, mas só porque cultivaste um hábito.



Podes cultivar um mau hábito e podes cultivar um bom hábito. Alguém pode cultivar o hábito do fumo, outro alguém pode cultivar o hábito de não fumar; uns cultivam o estilo não-vegetariano de alimentação, outros cultivam o estilo vegetariano - mas ambos cultivam e, no julgamento final, ambos são iguais porque ambos vivem de hábitos.



Essa questão deve ser ponderada muito profundamente, porque é muito fácil cultivar um bom hábito, mas é muito difícil tornar-se bom. E o substituto de um bom hábito é barato, pode ser conseguido facilmente.



Agora, particularmente na Rússia, estão desenvolvendo uma terapia: a terapia de reflexos condicionados. Dizem que as pessoas não podem deixar seus hábitos. Alguém fuma há vinte anos - como esperar que deixe de fumar? Podem explicar-lhe que aquilo é mau, os médicos podem dizer-lhe que se trata, mesmo, de uma situação perigosa, que pode originar um câncer, mas há vinte anos de longo hábito e, agora, está enraizado; foi ter ao núcleo mais profundo de seu corpo, está em seu metabolismo. Mesmo que queira, mesmo que deseje, mesmo que deseje sinceramente parar, será difícil que o consiga, porque não é uma questão de desejo sincero: aos vinte anos de contínua prática - e é quase impossível. Portanto, o que fazer?



Na Rússia dizem que não há necessidade de fazer nada e não há necessidade de explicar-lhe nada. Desenvolveram uma terapia: o homem começa a fumar e eles lhe dão um choque elétrico. O choque, a dor que ele causa e o fumo reúnem-se, tornam-se associados. Durante sete dias, o homem permanece hospitalizado e, sempre que começa a fumar, imediatamente, automaticamente, dão-lhe um choque elétrico. Depois de sete dias, o hábito está rompido. Se o persuadirem a fumar ele começará a tremer. No momento em que segura um cigarro, todo o seu corpo treme, por causa da idéia do choque.



Dizem, então, que nunca mais fumará: romperam o hábito por meio de um duro tratamento, por meio de choques. Mas esse homem não se tornará um Buda porque perdeu um velho hábito através de tratamento de choques. Todos os hábitos podem ser modificados através do tratamento de choques. Será ele um Buda? Esclarecido? Porque não mais tem hábitos nocivos? Não. Ele nem mesmo será um ser humano, agora - será um mecanismo. Terá medo das coisas; não poderá fazê-las porque lhe foram dados novos hábitos de medo.



Essa é a significação integral de “inferno”: todas as religiões têm usado tratamentos de choque. O inferno não está em parte alguma, não há qualquer “céu”. Ambas essas coisas são estratagemas, velhos conceitos de psicoterapia. Pintaram o inferno tão horrível que uma criança se toma de medo dele desde o início de sua infância. Basta mencionar a palavra inferno e o medo surge; ela treme. Esse é apenas um estratagema para evitar maus hábitos. Assim, muito prazer, felicidade, beleza e vida eterna são prometidas no céu, se seguires os bons padrões. Tudo quando a sociedade disser que é bom, tens de seguir. O céu ali está para ajudar-te em direção às coisas positivas; e o inferno ali está para evitar que sigas em direção negativa.



Tantra é a única religião que não usou de tais reflexos condicionados, porque Tantra diz que deves florescer como um ser perfeitamente acordado, não como um robô. Assim, se compreenderes Tantra, o hábito é que será mau; não há maus hábitos, não há bons hábitos - o hábito é mau. E é preciso estar acordado para que não haja hábitos. Tu vives, simplesmente, momento a momento com integral consciência, e não através de hábitos. Viver sem hábitos: esse é o Caminho Régio.



Por que é Régio? Um soldado tem de obedecer, mas um rei não precisa fazer isso. Um rei está acima, dá ordens; não recebe ordens de ninguém. Um rei nunca vai à luta, só os soldados vão. Um rei não é um lutador. Um rei vive a mais calma de todas as vidas. Isso é apenas uma metáfora. Um soldado tem de obedecer; um rei vive, simplesmente, desprendido e natural; não há ninguém acima dele. Tantra diz que não há ninguém acima de ti. A quem tens de seguir, através de quem deves organizar teu padrão de vida, através de quem tens de tornar-te imitador? - não há ninguém. Vive uma vida desprendida, natural, fluida - a coisa única é esta: sê perceptivo.



Lutando, poderás adquirir bons hábitos, mas serão hábitos não naturais. As pessoas dizem que o hábito é uma segunda natureza. Pode ser, mas lembra-te da palavra “segunda”. Não é natural; pode parecê-lo, mas não é.



Que diferença haverá entre compaixão verdadeira e compaixão cultivada? A compaixão verdadeira é um resposta - a situação e a resposta. A compaixão verdadeira é sempre viva: algo aconteceu e teu coração flui em direção àquilo. Uma criança cai e tu corres e ajudas a criança a levantar-se; mas isso é uma resposta. Uma compaixão cultivada, uma falsa compaixão, é, apenas, uma reação.



Essas duas palavras são muito significativas: “resposta” e “reação”. A resposta está viva para a situação, ao passo que a reação é apenas um hábito arraigado: no passado, foste treinado para ajudar alguém que cai e, simplesmente, ajudas, mas não pões teu coração nisso. Alguém se está afogando no rio, tu corres e ajudas a pessoa somente porque foste treinado para isso. Permaneces fora do caso, teu coração ali não está, tu não respondeste. Não respondeste àquele homem, àquele homem que se estava afogando no rio. Respondeste àquele momento, seguiste uma ideologia.



Seguir uma ideologia é bom: ajuda todo o mundo, torna-te um servidor das pessoas, têm compaixão! Tens uma ideologia, e, através dela, reages. É do passado que vem a ação; e já está morta. Quando a situação cria a ação e tu respondes em plena consciência, só então, algo de belo acontece contigo.



Se reages por causa de uma ideologia, de velhos padrões de hábitos, nada ganharás com teu gesto. Podes ganhar, no máximo, um pequeno ego, que não é, absolutamente, um ganho. Podes começar a gabar-te de teres salvo um homem que se estava afogando no rio. Podes ir para a praça pública e gritar fortemente: - “Vejam! Eu salvei outra vida humana!” Podes ganhar um pouco mais de ego, por teres feito algo bom; mas isso não é um ganho. Perdeste uma grande oportunidade de ser espontâneo, de ser espontâneo na compaixão. Se respondes à situação, então algo floresce em ti, um desabrochar; e sentirás um certo silêncio, uma quietude, uma bênção.




Sempre que há uma resposta, tu florescer por dentro.






Sempre que há uma reação, permaneces morto;






agiste como um cadáver, agiste como um robô.






A reação é feia, a resposta é bela.






A reação é sempre da parte,






a reação nunca é do todo.






A resposta é sempre do todo,






tua inteira totalidade salta para o rio.






Não pensas naquilo,






a situação simplesmente faz com que aconteça.


Se tua vida se tornar uma vida de resposta e espontaneidade, um dia te tornarás um buda. Se tua vida se tornar uma vida de reação, de hábitos mortos, poderás parecer um Buda, mas não te tornarás um Buda. Serás um Buda pintado; por dentro serás apenas um cadáver. Os hábitos matam a vida. Os hábitos são contra a vida.



Todos os dias, como hábito adquirido, tu te levantas cedo; às cinco horas estás de pé. Na Índia, vemos muita gente fazer isso porque, na Índia, durante séculos, ensinou-se que Brahmamuhurt, antes de o sol nascer, é o momento mais auspicioso, o momento sagrado. E é. Mas não podes fazer disso um hábito, porque o sagrado só existe numa resposta viva. Eles se levantam às cinco horas, mas nunca verás em seus rostos a glória que surge quando te levantas cedo como uma resposta.



A vida inteira está se acordando em torno de ti: a terra inteira está esperando pelo sol, as estrelas desapareceram. Tudo está se tornando mais consciente! A terra dormiu, as árvores dormiram, os pássaros estão prontos para alçar vôo. Tudo está pronto, um novo dia começa, uma nova celebração.



Quando essa atitude é uma resposta, então tu te ergues como um pássaro, sussurrando e cantando; teus pés dançam. Isso não é um hábito, não se trata de teres de te levantar; não é por tal coisa estar nas escrituras que, sendo um devoto hindu, te levantas cedo, pela manhã. Se fizeres disso um hábito, não ouvirás os pássaros, porque os pássaros não estão registrados nas escrituras. Não verás o sol que se ergue, porque não basta levantar-se - tu estás seguindo uma disciplina morta.



Podes até ficar zangado, podes até ficar contra aquilo porque na véspera te deitaste tarde e não estás te sentindo bem para te levantares. Seria melhor que tivesses dormido um pouco mais. Não estavas pronto, estavas fatigado. Ou a noite passada não foi tão boa, sonhaste demais e todo o teu corpo sente-se letárgico - gostarias de dormir um pouquinho mais. Mas não; as escrituras rezam assim e assim foste ensinado deste tua mais tenra infância...



Na minha infância, meu avô era partidário das manhãs. Arrancava-me do meu sono mais ou menos às três horas - desde então não consigo levantar-me cedo. Ele me arrastava e eu o maldizia por dentro, mas nada podia fazer e saía com ele para uma caminhada; cheio de sono tinha de caminhar ao lado dele. Assim meu avô destruía toda a beleza do amanhecer.



Sempre que, mais tarde, eu tinha de sair para uma caminhada matinal, não podia perdoá-lo. Lembrava-me sempre dele. Destruíra tudo; durante anos, ele esteve continuamente me arrastando - contudo fazia algo bom; pensava que me estava ajudando a formar um estilo de vida. Mas essa não é a maneira certa: eu sonolento e ele me arrastando. O caminho era bonito, a manhã era bonita, mas ele destruía toda a beleza, ele me despojava. Só depois de muitos anos pude recuperar-me e andar pela manhã sem me lembrar dele. Antes sua lembrança estava comigo. Mesmo depois de morto, ele me seguia, como uma sombra, pela manhã.



Se fazes do levantar-te cedo um hábito, se o fazes como algo forçado, então a manhã torna-se feia. Nesse caso é melhor continuar a dormir. Mas sê espontâneo! Há dias em que não serás capaz de levantar-te - nada há de errado nisso, não estás cometendo um pecado. Se te sentes sonolento, o sono é belo - tão belo como qualquer manhã e tão belo como o nascer do sol, porque o sono pertence ao Divino, assim como o sol. Se tens vontade de descansar o dia inteiro, isso é bom!



Isso é o que o Tantra diz: Caminho Régio, ou seja, agir como um rei, não como um soldado. Não há ninguém acima de ti para forçar-te a dar-te ordens; obedecer não deve, realmente, ser um estilo de vida. Aquele é o Caminho Régio. Deves viver momento a momento, gozando momento a momento, e a espontaneidade deve ser a forma. Por que te preocupas com o amanhã? Este momento é o bastante. Vive-o! Vive-o em sua totalidade. Responde, mas não reajas. Nada de hábitos - esta é a fórmula.



Não estou dizendo para que vivas num caos, mas para que não vivas através de hábitos. Talvez, só por viver espontaneamente, uma forma de vida evolua em torno de ti, mas não será forçada. Se gostas da manhã todos os dias, e, por esse prazer te levantas cedo não por hábito, então levanta-te cedo todos os dias e faze-o durante toda a tua vida, que isso não será um hábito. Não te estás forçando a levantar-te - acontece. Isso é belo, gozas isso, amas isso.



Se acontece por amor, não é um estilo, não é um hábito, não é um condicionamento, não é uma coisa morta, cultivada. Menos hábitos, e estarás mais vivo. Nenhum hábito, e estarás completamente vivo. Os hábitos te cercam como uma crosta morta e tu és encerrado por ela; ficas como numa cápsula, como uma semente; uma célula te rodeia e é dura. Sê flexível.



A Ioga te ensina a cultivar o oposto de tudo o que é mau. Luta contra o mal e atende o bem. Se há violência, mata a violência em teu íntimo, torna-te não-violento, cultiva a não-violência. Faze sempre o oposto e força-o a tornar-se teu padrão. Essa é a maneira do soldado, um pequeno ensinamento.



Tantra é o Grande Ensinamento - o Supremo. Que diz Tantra? Tantra diz: não cries conflitos dentro de ti. Aceita ambas as coisas pois, através dessa aceitação, acontece uma transcendência; não uma vitória, mas uma transcendência. Em Ioga, há vitórias, em Tantra, não. Em Tantra existe apenas transcendência. Não que te tornes não-violento contra a violência; simplesmente passa para além de ambas essas coisas, simplesmente te tornas um terceiro fenômeno - uma testemunha.



Certa vez, eu estava sentado num açougue. O açougueiro era um homem muito bom e eu costumava visitá-lo. Era noite e ele já estava fechando quando um homem chegou e pediu uma galinha. Eu sabia, pois alguns minutos antes ele me dissera que tinha vendido tudo naquele dia, que apenas restara uma galinha. Assim, ele ficou muito feliz. Entrou, trouxe a galinha, atirou-a na balança e disse: - “São cinco rúpias.”



O homem disse: - “Está bem, mas vou fazer uma festa, muitos amigos virão e essa galinha parece muito pequena. Gostaria de levar uma que fosse maior.”



Bem, eu sabia que não havia mais nenhuma galinha, aquela era a única. O açougueiro meditou por um momento, levou a galinha de volta para outro compartimento, ficou ali por um certo tempo, voltou, atirou uma galinha na balança - a mesma - e disse: - “Está é de sete rúpias.”



O homem falou: - “Sabes de uma coisa? Vou levar as duas.”



Então o açougueiro ficou, realmente, num embaraço.



E Tantra causa o mesmo embaraço ao Todo, à Existência mesmo. Tantra diz: levarei as duas.



Não há duas. O ódio não é senão o outro aspecto do amor. E a cólera nada mais é do que o outro aspecto da compaixão. E a violência nada mais é do que a outra face da não-violência. Tantra diz: - “Sabe de uma coisa? Ficarei com as duas. Aceito as duas.” E, subitamente, através dessa aceitação, há uma transcendência, porque não há duas coisas. Violência e não-violência não são duas coisas. Cólera e compaixão não são duas. Amor e ódio não são dois.



Eis por que sabes, observas, mas estás tão inconsciente que não reconheces o fato. Teu amor se transforma em ódio dentro de um segundo. Como é possível que sejam dois? Nem mesmo um segundo é necessário: neste momento amas e, no momento seguinte, odeias a mesma pessoa. Pela manhã amas a mesma pessoa, à tarde a odeias, à noite tornas a amá-la. Na verdade, amor e ódio não são as palavras certas: ódio-amor, cólera-compaixão - são um só fenômeno e não dois. Por isso é que o amor se torna ódio e o ódio pode tornar-se amor; a cólera pode fazer-se compaixão e a compaixão pode tornar-se cólera.



Tantra diz que, a partir do momento em que tua mente estabelece divisão, começas a lutar. Crias primeiro a divisão: condenas um aspecto e aprecias outro. Crias primeiro a divisão, depois o conflito e ficas perturbado. E ficarás perturbado. Um iogue está constantemente perturbado porque tudo quando faz não produz a vitória final; no máximo, sua vitória pode ser temporária.



Podes recalcar a cólera e agir compassivamente, mas sabes bem que a recalcaste para o inconsciente e que ela ali está; a qualquer momento, um pouco de descuido e ela borbulhará, virá à tona. Por isso é preciso estar sempre a recalcá-la. É tão feio estar sempre recalcando as coisas negativas - a vida toda é desperdiçada. Quando gozarás o Divino? Não tens espaço, nem tempo. Estás lutando contra a cólera, a ganância, o sexo, o ciúme e mil outras coisas. Esses mil inimigos aí estão; tens de manter-te constantemente alerta, não podes nunca relaxar. Como é possível que sejas desprendido e natural? Estarás sempre tenso, esgotado, sempre pronto à luta, sempre receoso.



Os iogues tornam-se temerosos até de dormir, porque, dormindo, não podem estar atentos. No sono, tudo quanto recalcaram vem à superfície. Podem ter conseguido o celibato, enquanto estão acordados, mas nos sonhos isso é impossível - nos sonhos surgem belas mulheres, flutuando para dentro deles. E nada podem fazer. Aquelas belas mulheres não estão vindo de nenhum céu, como está escrito nas histórias hindus: Deus as mandou. Por que Deus estaria interessado no iogue? Um pobre iogue, não fazendo mal algum a ninguém, simplesmente sentado no Himalaia, de olhos fechados, lutando contra seus próprios problemas - por que Deus estaria interessado nele? E por que ele mandaria Ele apsaras, belas mulheres, para afastá-lo de seu caminho? Por quê? Não há ninguém ali. Não há necessidade de ninguém mandar ninguém. O iogue está criando seus próprios sonhos.



Tudo o que recalcas vem à tona nos sonhos. Os sonhos são a parte que o iogue negou. E tuas horas que passas o são tão tuas quanto teus sonhos são teus. Assim, se amas uma mulher em tua hora de vigília, ou a amas durante o sono, não há diferença; nem pode haver, porque não é uma questão de existir, de fato, uma mulher, ali, ou não; é uma questão que diz respeito a ti próprio. Se amas uma figura, uma figura de sonho, ou se amas uma mulher de verdade, não há diferença, realmente - uma mulher de verdade também é uma figura, por dentro. Jamais conheces realmente uma mulher, conheces apenas a figura.



Estou aqui. Como sabes que, realmente, estou aqui? Talvez seja apenas um sonho, talvez esteja sonhando que estou aqui. Qual será a diferença, se sonhas que estou aqui ou se me vês realmente aqui? Como estabelecerás a distinção? Qual é o critério? Porque, esteja eu aqui, ou não, não faz a menor diferença: tu me vês dentro de tua mente. Em ambos os casos - sonho ou realidade -, teus olhos recebem os raios, tua mente interpreta e diz que há alguém ali. Tu jamais viste uma pessoa real; não podes vê-las.



Por isso é que os hindus dizem que este mundo é maya, um mundo ilusório. Tilopa diz: “Transitório, fantasmagórico, espectral, visionário é este mundo. Por quê? Porque, entre o sonho e a realidade, não há diferença. Em ambos os casos, estás confinado à tua mente. Vês apenas as figuras; jamais viste a realidade - e nem poderás vê-la, porque a realidade só poderá ser vista quando tu fores real. Se tu és um fenômeno espectral, uma sombra, como podes ver o que é real? A sombra só pode ver a sombra. Poderás ver a realidade apenas quando a mente for abandonada. Através da mente tudo se torna irreal. A mente projeta, cria, dá colorido, interpreta - tudo se forma falso. Daí a ênfase, a contínua ênfase em como abandonar a mente.



Tantra diz: não lutes. Se lutares, poderás continuar tua luta por muitas vidas e nada acontecerá por esse caminho, porque, em primeiro lugar, cometeste um engano - onde viste dois, havia apenas um. E se perderes o primeiro passo, não poderás, sem ele, atingir a meta. Toda a tua passagem será uma contínua perda. O primeiro passo tem de ser dado com absoluta certeza; de outra maneira jamais atingirás a meta.



E o que é absolutamente certo? Tantra diz que é ver um em dois, ver um em muitos. No momento em que vires um na dualidade, já se terá iniciado a transcendência. Esse é o Caminho Régio.


Agora tentaremos compreender o sutra.


Transcender a dualidade é visão soberana.


Transcender, não vencer - transcender. Essa palavra é muito bela. Que significa transcender?


Observa uma criancinha brincando com seus brinquedos. Tu lhe dizes que os guarde e ela fica zangada. Mesmo quando vai dormir leva seus brinquedos e a mãe tem de removê-los depois de ela adormecer. Pela manhã, a primeira coisa que pergunta é onde estão seus brinquedos e quem os levou dali. Mesmo seu sonho refere-se aos brinquedos. Então, de súbito, um dia, a criança esquece os brinquedos. Durante alguns dias, eles permanecem num canto de seu quarto e, então, são removidos ou deitados fora. Nunca mais ela pergunta onde estão. Que aconteceu? Ela os transcendeu; tornou-se madura. Não foi uma luta e uma vitória; não houve luta contra o desejo de ter brinquedos. Não. De súbito, um dia, ela percebeu que aquilo é infantil, que ela não era mais uma criança. De súbito, compreendeu que brinquedos são brinquedos, não são a vida real; e que ela estava pronta para a vida real. Voltou as costas aos brinquedos. Nunca mais eles apareceram em seus sonhos, nunca mais pensou neles. E, ao ver outras crianças brincando com brinquedos, sorri; sorri, um riso de quem conhece, um riso sábio. Diz: - “É uma criança, ainda infantil, brincando com brinquedos.” Ela transcendeu.



A transcendência é um fenômeno muito espontâneo. Não deve ser cultivada. Tu simplesmente amadureces. Vês, simplesmente, o quanto certas coisas são absurdas... e transcendes.



Um jovem aproximou-se de mim, muito preocupado. Tinha uma bela esposa, mas a moça possuía um nariz um tanto comprido. Ele estava preocupado e me perguntou: - “Que fazer?” Mesmo a cirurgia plástica já havia sido tentada, porém o nariz ficara um pouco mais feio, porque nada havia de errado com ele e, quando tentamos melhorar algo que nada tem de errado, esse algo torna-se feio, mais feios; torna-se um transtorno. Agora, o rapaz estava mais perturbado e perguntou-me o que devia fazer.



Falei-lhe sobre os brinquedos, dizendo: - “Um dia terás de transcender. Isso é infantil - por que estás tão obcecado com um nariz? O nariz é apenas uma pequenina parte e tua esposa é bonita, uma pessoa tão bonita - por que a estás entristecendo com essa questão do nariz? Ela também se tornou vulnerável a propósito do nariz. E esse nariz acabou por se fazer todo o problema da vida. E todos os problemas são assim! Não penses que teu problema é algo maior - todos os problemas são iguais ao teu. Todos os problemas são criados pela infantilidade, juvenilidade; nascem da imaturidade.



O jovem estava tão preocupado com o nariz que nem olhava para o rosto da esposa, pois a cada vez que via o nariz, sentia-se perturbado. Realmente, não conseguimos superar tão facilmente certas coisas. Mesmo que não olhes para um rosto por causa do nariz, ainda assim tu te lembrarás desse nariz. Mesmo que tentes fugir, o caso ali está. Estás obcecado. Assim, eu disse a ele que meditasse sobre o nariz da esposa.



Disse ele: - “Quê? Eu nem posso olhar para ele.”



Mas eu retorqui: - “Isso vai ajuda; simplesmente medita sobre o nariz. Antigamente, as pessoas costumavam meditar sobre a ponte de seus próprios narizes; portanto, o que há de errado em meditar sobre a ponta do nariz de tua esposa? Tenta isso!”



Perguntou: - “Mas que virá dessa meditação?”



“Tenta, apenas - disse-lhe eu - e depois de uns tantos meses vem contar-me o que aconteceu. A cada dia, faze com que ela se acomode à tua frente e começa a meditar sobre o nariz dela.”



Um dia ela chegou, correndo para mim e disse: - “Que tolice andei fazendo! De súbito, transcendi. Toda a loucura daquilo se tornou visível - agora já não há problema.”



Ele não estava vitorioso, porque, na verdade, não havia inimigo para ser vencido. Tu não tens inimigos - isso é o que Tantra diz. A vida toda é profundamente amorosa em relação a ti. Não há ninguém para ser destruído, ninguém para ser conquistado; ninguém é inimigo, não há um desafeto para ti. A vida toda te ama. De toda parte o amor flui.



E em teu íntimo, também não há inimigos; os inimigos foram criados pelos sacerdotes, eles criaram um campo de batalha, transformaram-te num campo de batalha. Dizem: - Combate isto, isto é mau! Criaram tantos inimigos, que estás cercado por eles e perdeste o contato com toda a beleza da vida.



Eu te digo: a cólera não é tua inimiga, a ganância não é tua inimiga e nem a compaixão é tua amiga, nem a não-violência é tua amiga - porque, amigos ou inimigos, tu permaneces com a dualidade.



Olha apenas para o todo do teu ser e verás que ele é um. Quando o inimigo se torna amigo e o amigo se torna inimigo, toda a dualidade está rompida. De repente, há a transcendência, de repente há o acordar. E eu te digo que isso é súbito; quando lutas, tens de lutar polegada por polegada, mas aqui não se trata absolutamente de uma luta. Essa é a maneira dos reis - o Caminho Régio.



Tilopa diz: “Transcender a dualidade é visão soberana.” Transcende a dualidade!



Observa apenas, e verás que não há dualidade.



Bodhidharma foi à China, uma das mais raras jóias jamais nascidas. O Rei veio vê-lo e disse: - “Às vezes sinto-me bastante perturbado. Às vezes há muita tensão e muita angústia em mim.”



Bodhidharma fitou-o e disse: - “Vem amanhã cedo, às quatro horas, e traze toda a tua angústia, as ansiedades, as perturbações contigo. Lembra-te, não venhas sozinho - traze todas elas.



O Rei olhou para Bodhidharma - que tinha um aspecto muito estranho, capaz de matar alguém de medo - e disse: - “Que estás dizendo? Que significa o que disseste?”



Bodhidharma disse: - “Se não me trouxeres essas coisas, como poderei pôr-te em bom estado? Traze todas e tudo será acertado.”



O Rei pensou: - “É melhor não ir. Às quatro horas da manhã ainda está escuro e este homem parece meio louco. Com esse grande cajado na mão poderá até bater-me. E que quer ele dizer quando fala em acertar tudo?”



Não pôde dormir a noite inteira, porque a figura de Bodhidharma o perseguia. Pela manhã sentiu que seria melhor ir, “porque, quem sabe? Talvez ele possa fazer alguma coisa.”



Assim, foi, resmungando, hesitante, mas lá chegou. A primeira coisa que Bodhidharma perguntou - e ele estava sentado diante do templo, com o cajado na mão, parecendo ainda mais perigoso no escuro - foi: - “Então, vieste! Onde estão aqueles outros dos quais me falaste?”



O Rei disse: - “Tu falas por enigmas; não há nada que eu pudesse trazer. Eles estão dentro de mim.”



Disse Bodhidharma: - “Muito bem. Dentro e fora, as coisas são coisas. Senta-te, fecha os olhos e tenta procurá-los dentro. Agarra-os imediatamente, avisa-me e olha para o meu cajado. Eu vou acertar com eles!”



O Rei fechou os olhos - nada mais podia fazer -, fechou, pois, os olhos, um tanto amedrontado; olhou para dentro, aqui e ali, observou e, subitamente, tornou-se consciente de que quanto mais olhava nada via - nem ansiedade, nem angústia, nem perturbação. Caiu em profunda meditação. Passaram-se horas, o sol começou a nascer e no rosto dele havia um tremendo silêncio.



Então, Bodhidharma disse-lhe: - “Abre os olhos, agora. Isso já é o bastante! Onde estão aquelas coisas? Pudeste agarrá-las?”



O Rei sorriu, fez uma reverência, tocou os pés de Bodhidharma, e disse: - “Tu realmente as acertaste, porque não as encontrei e, agora, sei o que se passava. Em primeiro lugar, não estavam ali. Pensei que existissem porque nunca entrei dentro de mim mesmo para olhá-las. Estavam ali porque eu não estava presente lá dentro. Agora sei; fizeste o milagre.”



E foi isso o que aconteceu. Isso é transcendência; antes de resolver um problema, verifica, em primeiro lugar, se há mesmo um problema. Primeiro crias o problema e, depois, começas a buscar uma solução. Primeiro crias a pergunta e, depois, dás a volta ao mundo e sei que, se observares a pergunta, ela desaparecerá; não haverá necessidade de uma resposta. Se observares a pergunta, a pergunta desaparecerá - e isso é transcendência. Não é uma solução, já que não existe pergunta alguma para ser respondida. Não estás doente. Observa internamente e não encontrarás a doença: então, que necessidade há de uma solução?


Cada homem é como deve ser.



Cada homem nasce como rei.



De nada carece,



não precisa melhorar.


E as pessoas que tentam melhorar-te destroem-te; são os verdadeiros fabricantes do mal. E há muitas que permanecem à espreita, como gatos espreitam camundongos: tu te aproximas, elas saltam sobre ti e começa, imediatamente, a melhorar-te. Há muitos melhores, por isso é que o mundo está nesse caos; há gente demais tentando melhorar-te.


Não permitas que ninguém te melhore.






Tu já é a última palavra.






Tu não és apenas o alfa, és também o ômega.






Tu és completo, perfeito.



Mesmo que te sintas imperfeito, lembra-te de que Tantra diz que a imperfeição é perfeita. Não precisas preocupar-te com isso. Parecerá muito estranho dizer que tua imperfeição é também perfeita, que nada lhe está faltando. Na verdade, pareces imperfeito, não porque sejas imperfeito, mas porque estás fazendo crescer a perfeição. Isso parece absurdo, ilógico, porque pensamos que a perfeição não pode crescer; porque imaginamos a perfeição como aquilo que alcançou o último ponto de crescimento - mas essa perfeição está morta. Se não pode crescer, a perfeição está morta.



Deus continua crescendo, pois não é perfeito dessa forma, a de não precisar crescer. Ele é perfeito porque nada Lhe falta, mas vai de uma perfeição a outra, crescendo sem cessar - Deus é evolução, não da imperfeição, para a perfeição, mas da perfeição para uma maior perfeição, para ainda maior perfeição.



Quando a perfeição não tem futuro, está morta. Quando a perfeição tem um futuro, uma abertura, um crescimento, ainda um movimento, então torna-se parecida à imperfeição. E eu gostaria de dizer-te: sê imperfeito e em crescimento, porque isso é a vida. E não tentes ser perfeito, senão deixarás de crescer. Então serás, como uma estátua de Buda, pedra morta.



Por causa desse fenômeno - a perfeição que continua crescendo - sentes-te imperfeito. Deixa que assim seja. Permite que assim seja. Esse é o Caminho Régio.


Transcender a dualidade é visão soberana;






dominar abstrações é prática régia.



As abstrações existem; tu perderás tua consciência muitas e muitas vezes. Meditas, sentas-te para a meditação, um pensamento surge e, imediatamente, te esqueces de ti mesmo, segues o pensamento, és envolvido por ele. Tantra diz que há apenas uma coisa a ser dominada - a abstração.



Como? Só de uma maneira: quando um pensamento vier, conserva-te testemunha. Encara-o, permite que ele passe pelo teu ser, mas não te prendas de forma alguma a ele, a favor ou contra. Pode ser um mau pensamento, um pensamento voltado para matar alguém - não o repilas, não digas: este é um mau pensamento. No momento em que dizes alguma coisa sobre um pensamento, tu te ligas a ele e cais na abstração. Aquele pensamento pode levar-te a muitas coisas, de um pensamento a outro. Um bom pensamento vem, um pensamento compassivo; não digas: “Oh! Que lindo! Sou um grande santo. Tão belos pensamentos estão surgindo que eu gostaria de dar salvação ao mundo inteiro. Gostaria de libertar toda a gente.” Não digas isso. Bom ou mau, conserva-te como testemunha.



Mesmo assim, a princípio, muitas vezes te distrairás. Então, que fazer? Se estás absorto, sê absorto. Não te preocupes demais com isso, quando não, essa preocupação se tornará obsessiva. Sê distraído! Por alguns minutos permanecerás absorto e, então, subitamente, recordarás: “estou distraído” e estarás de volta. Não te sintas deprimido. Não dias “não está certo que me distraia”, pois estará novamente criando o dualismo: mau e bom. Distraído? Pois está bem, aceita isso e volta. Mesmo com a distração, não cries um conflito.



Isso é o que Krishnamurti vem dizendo sempre. Usa, para tanto, um conceito paradoxal. Diz que, se estás desatento, deves ser atentamente desatento. Isso é certo! De repente descobres que estiveste desatento, dás atenção a isso e retornas ao ponto de partida. Krishnamurti não tem sido compreendido pelo fato de ele seguir o Caminho Régio. Se ele fosse um iogue, seria muito facilmente entendido. Por isso diz, constantemente, que não há método: no Caminho Régio não há método. Insiste em dizer que não há técnica: no Caminho Régio não há técnica. Insiste em dizer que escritura alguma te ajudará: no Caminho Régio não há escritura.



Absorto? No momento em que recordares, no momento em que prestares atenção e descobrires que estiveste distraído, retorna! Isso é tudo! Não cries conflito algum. Não digas que foi mau, não te sintas deprimido, frustrado, por te haveres novamente abstraído. Nada há de errado com a distração - goza também isso.



Se puderes gozar a abstração, ela te acontecerá cada vez menos. E um dia virá em que não haverá abstração - mas não será uma vitória. Tu não recalcaste os fios da distração de tua mente para a profundeza do inconsciente. Não. Tu permitiste que eles viessem. Também eles são bons.



Esta é a maneira de ser do Tantra, que diz que tudo é bom e sagrado. Mesmo que haja abstração, distração, de certa forma ela é necessária. Podes não ter consciência do porquê dessa necessidade, entretanto ela existe. Se puderes sentir-te bem com tudo o que acontece, só então estarás seguindo o Caminho Régio. Se começas a combater o que quer que seja, é porque saíste do Caminho Régio e te tornaste um soldado comum, um guerreiro.


Compreender a dualidade é visão soberana;






dominar abstrações é prática régia;






a trilha da não-prática é o caminho de todos os Budas.



Nada deve ser praticado, porque a prática cria hábitos. É preciso que nos tornemos mais conscientes, não mais praticantes. O belo acontece através do espontâneo e não através da prática. Podes praticar amor, podes receber treinamento para o amor. Na América, cogita-se de criar alguns cursos de treinamento para o amor, porque as pessoas esqueceram-se, mesmo, de como se ama. É algo realmente estranho! Mesmo os animais, os pássaros e as árvores não perguntam a ninguém, não vão a colégio algum e amam. E muitas pessoas me procurar...



Há alguns dias apenas, um jovem escreveu-me uma carta. Dizia: - “Eu compreendo; mas como ama? Como proceder? Como me aproximar de uma mulher?” Parece ridículo que tenhamos perdido completamente o caminho desprendido e natural. Nem mesmo o amor não é possível sem treinamento. E, se fores treinado, tornar-te-ás repulsivo, porque, então, tudo o que fizeres será parte do treinamento. Não será verdadeiro; será uma representação. Não será a vida real; será como se se tratasse de atores.



Os atores criam amor, representam cenas amorosas, mas já reparaste que os atores são fracassados no que se refere ao amor? Suas vidas amorosas são, quase sempre, um fracasso. Teoricamente isso não deveria acontecer, porque durante vinte e quatro horas por dia eles praticam o amor. Com tantas mulheres, com tantas histórias, de formas diversas praticam o amor; são amantes profissionais e deveriam ser perfeitos ao apaixonarem-se, mas, quando se apaixonam, tornam-se, quase sempre, fracassados.



As vidas amorosas de atores e atrizes são sempre fracassos. Por quê? É a prática; praticaram demais e, agora, o coração não pode funcionar. Continuam a fazer, simplesmente, gestos mecânicos; beijam, mas sem beijar; só os lábios se juntam. Só os lábios se juntam e não há transferência de energia ali, seus lábios estão fechados, frios. E, se os lábios estão frios, o beijo é repulsivo, anti-higiênico. É, apenas, a transferência de milhões de germes, doenças, células - e só.



O beijo é repulsivo, se a energia interior não está presente. Podes abraçar uma mulher, ou um homem - os ossos se encontram, os corpos se chocam, mas não há transferência da energia interior. A energia não está presente. Apenas te movendo por meio de gestos mecânicos. Podes, mesmo, fazer amor. Podes cumprir todos os gestos do amor, mas isso será mais uma ginástica do que amor.



Lembra-te: a prática mata a vida. A vida é mais viva quando não praticada. Quando ela flui em todas as direções, sem qualquer esquema, sem qualquer disciplina forçada, então encontra sua própria ordem, sua própria disciplina.







A trilha da não-prática é o caminho de todos os Budas;



quem pisa essa trilha alcança o estado de Buda.







Então, o que fazer? Se a não-prática é o caminho, então, o que fazer? Apenas viver espontaneamente. Que medo é esse? Por que estás tão temeroso de viver espontaneamente? Claro que pode haver perigos, riscos - mas isso é bom! A vida não é como um trilho de estrada de ferro, com os trens movendo-se sempre no mesmo trilho, manobrando. A vida é como um rio: cria seu próprio caminho; não é um canal. Um canal não serve; um canal é uma vida de hábitos. O perigo existe, mas o perigo é vida, está envolvido na vida. Só os mortos estão para além do perigo. Por isso é que as pessoas se tornam mortas.



Vossas casas mais se parecem a sepulturas. Estais demasiadamente preocupados com a segurança. E o excesso de preocupação em relação à segurança mata, porque a vida é insegura. Assim é! Nada se pode fazer quanto a isso; ninguém pode tornar a vida segura. Todas as seguranças são falsas, todas as seguranças são imaginárias. Uma mulher ama-te hoje, amanhã - quem sabe? Como podes estar seguro do amanhã? Poder ir ao tribunal e registrar, firmar um laço legal que diga que ela permanecerá também amanhã como tua esposa. Ela pode permanecer como tua esposa, em virtude do laço legal, mas o amor pode desaparecer. O amor não conhece legalidade. E, quando o amor desaparece, a esposa permanece esposa e o marido permanece marido, então há um clima de morte entre eles.



Por causa da segurança, criamos o casamento. Por causa da segurança, criamos a sociedade. Por causa da segurança, sempre nos movemos no caminho canalizado.







A vida é selvagem.



O amor é selvagem.



E Deus é absolutamente selvagem.







Ele jamais entrará nos teus jardins, porque eles são demasiadamente humanos. Ele não irá às tuas casas, pois são demasiadamente pequenas. Ele jamais será encontrado em teus caminhos canalizados. Ele é selvagem.



Lembra-te: Tantra diz que a vida é selvagem. Temos de viver entre todos os perigos, entre todos os riscos - e é belo, porque nisso há aventura. Não tentes fazer da tua vida um esquema fixo; deixa que ela tome seu próprio curso. Aceita tudo, transcende a dualidade através da aceitação, permite que a vida tome seu próprio curso - e chegarás, com toda a certeza chegarás. Este “toda a certeza” eu digo não para tornar-te seguro, mas porque é um fato; eis por que o digo. Não é a tua certeza de segurança. Os que são selvagens sempre a alcançam.



Transitório é este mundo:






Como fantasmas e sonhos, ele não tem substância alguma.






Renuncia a ele e abandona teus iguais,






corta os laços da luxúria e do ódio,






e medita em bosques e montanhas.






Se, sem esforço,






permaneceres desprendidamente em estado natural,






logo Mahamudra alcançarás






e obterás a não-obtenção, o não-aquisitivo.



Este sutra deve ser muito profundamente entendido, porque é possível que te equivoques. Tem havido muitos equívocos em relação a este sutra de Tilopa. Todos os que o comentaram, diante de mim, perderam o ponto essencial. Há uma razão. Este sutra diz: Transitório é este mundo; este mundo é feito do mesmo material com que são feitos os sonhos. Entre os sonhos e este mundo não há diferença. Caminhando ou adormecido, tu vives num mundo de sonho de tua propriedade. Lembra-te: não há um mundo; há muitos mundos, tantos como há pessoas. Cada uma delas vive em seu próprio mundo. Às vezes nossos mundos se encontram e se chocam, às vezes se fundem, mas nós permanecemos fechados em nossos próprios mundos.




Transitório é este mundo [criado pela mente],






Como fantasmas e sonhos, ele não tem substância alguma.



Isso é o que os físicos também dizem. Ele não tem substância alguma. A matéria desapareceu completamente do vocabulário dos físicos nestes últimos trinta ou quarenta anos. Há setenta ou setenta e cinco anos atrás, Nietzsche declarou: - “Deus está morto.” E disse isso para enfatizar que só a matéria existia - e o século ainda não se havia completado. Exatamente vinte e cinco anos depois da morte de Nietzsche - ele morreu em 1900 -, em 1925, os físicos compreenderam que nada sabemos sobre Deus, mas de uma coisa estamos certos: a matéria está morta. Não há nada de material em torno de nós, tudo não passa de vibrações, vibrações entrecruzadas que criam a ilusão da matéria.



É como no cinema: nada há na tela, apenas luzes elétricas entrecruzando-se e criando um mundo de ilusão. E já há filmes tridimensionais: criam perfeitamente uma ilusão de tridimensionalidade. Exatamente como um filme sobre a tela é o mundo, porque ele é, todo, um fenômeno elétrico; só tu és real, só a testemunha é real, tudo o mais é um sonho. E o estado e Buda surge quando transcendes todos esses sonhos e nada resta para ser visto: apenas o que via está sentado, silencioso. Não há nada, não há objeto a ser visto; apenas o que via restou - então obtiveste o estado de Buda, a realidade.



Transitório é este mundo:

Como fantasmas e sonhos, ele não tem substância alguma.



Renuncia a ele e abandona teus parentes...




Estas palavras: “Renuncia a ele e abandona teus parentes” foram mal entendidas. Houve uma razão para isso; todos os que não as entenderam eram renunciantes e pensaram que Tilopa estava falando daquilo em que acreditavam. Mas Tilopa não podia dizer tal coisa, porque vai contra todas as suas concepções. Se o mundo é como um sonho, que significação tem renunciar a ele? Podes renunciar à realidade, mas não podes renunciar a um sonho - seria tolice demais. Podes renunciar a um mundo substancial, mas não podes renunciar a um mundo fantasma. De manhã, sobe ao topo da tua casa, chama todos os que estão próximos e declara: - “Renunciei aos sonhos! Na noite passada tive sonhos demais e renunciei a eles.” Quem te ouvir rirá; todos pensarão que enlouqueceste - ninguém renuncia aos sonhos. Todos acordam, simplesmente; ninguém renuncia aos sonhos.




Um Mestre Zen acordou, certa manhã, e disse a um de seus discípulos: - “Tive um sonho a noite passada. Quer interpretá-lo para mim, dizer-me o que significa?”






O discípulo disse: - “Espera! Deixa-me trazer-te uma xícara de chá.”






O Mestre tomou a xícara de chá e perguntou: - “E agora, o sonho?”






Disse o discípulo: - “Esquece-te dele, porque um sonho é um sonho e não precisa de interpretação. Uma xícara de chá é interpretação suficiente - acorda!”






O Mestre falou: - “Certo, absolutamente certo! Se tivesses interpretado meu sonho, eu te expulsaria do meu mosteiro, porque só os tolos interpretam sonhos. Fizeste bem; de outra maneira, terias sido definitivamente expulso e eu nunca mais olharia para tua cara.”



Quando tiveres um sonho, o que precisas é de uma xícara de chá e fim de conversa. Freud, Jung e Adler ficariam muito preocupados se ouvissem essa história, porque desperdiçaram sua vida inteira preocupados se ouvissem essa história, porque desperdiçaram sua vida inteira interpretando sonhos alheios. Um sonho tem que ser transcendido. Simplesmente por saberes que se trata de um sonho, tu o transcendes - isso é a renúncia.



Tilopa tem sido erroneamente interpretado porque há, no mundo, renunciantes demais, condenadores. Pensaram que ele estava dizendo que se renunciasse ao mundo. Não era isso o que ele estava dizendo. Dizia: - “Aprende que ele é transitório; isso é renúncia.” “Renuncia a ele” - diz Tilopa e quer dizer: aprende que ele é um sonho.



Abandona teus parentes - e pensaram que ele estivesse dizendo: - “Deixa tua família, tuas relações, tua mãe, teu pai, teus filhos.” Não, ele não estava dizendo isso, não podia dizer isso; é impossível que Tilopa diga tal coisa. Não deves pensar que alguém é tua esposa, pois esse “ser meu” é um fantasma, um sonho. Não deves dizer: - “Esta criança é meu filho”, porque esse “ser meu”, esse “meu” é um sonho. Ninguém é teu, ninguém pode ser teu. Renuncia a essas atitudes que dizem que alguém é teu - marido, esposa, amigo, inimigo; renuncia a todas essas atitudes. Não construas pontes: “meu”, “teu” - põe de lado essas palavras.



Se puseres de lado essas palavras, renunciarás aos teus parentes: ninguém é teu. Isso não significa que devas escapar, que devas fugir de tua esposa, porque, se fugiras, mostrarás que pensas que ela é substancial. Fugir sempre mostrará que ainda pensas que ela é tua, caso contrário, por que foges?



Isto aconteceu: um hindu sannyasin, Swami Ramteerth, voltou da América. Estava no Himalaia e sua esposa veio vê-lo, o que o deixou um pouco perturbado. Seu discípulo, pessoa de mente muito penetrante, Sardar Poorn Singh, estava sentado ao lado dele. Observou e sentiu que o Swami ficara perturbado. Quando a esposa se foi, Ramteerth arrancou, subitamente, suas vestes de cor laranja. Poorn indagou: - “Que é isso? Eu estava observando e vi que ficaste um pouco perturbado; senti que não eras tu mesmo.”



O outro respondeu: - “É por isso que estou arrancando estas roupas. Encontrei tantas mulheres e nunca me perturbei. Nada há de especial nessa mulher - a não ser que ela é minha esposa. Esse “minha” ainda está presente. Não sou digno de usar estas roupas. Não renunciai ao “minha”, renunciei apenas à esposa. A esposa não é o problema; nenhuma outra mulher me perturbou, mas chega a minha mulher - mulher comum como qualquer outra - e, de repente, fico perturbado. A ponte ainda está aí.” Morreu vestido com roupas comuns, jamais usou as de cor laranja. Dizia: - “Não sou digno.”



Tilopa não dirá que renuncies à tua esposa, a teu filho, aos teus parentes. Não. Ele está dizendo que renuncies às pontes, que as deixes e isso é um problema teu, nada tem a ver com tua esposa. Se ela continua a pensar em ti como seu marido, é problema dela, não teu. Se o filho continua a pensar que és seu pai, isso não é problema, ele é uma criança que precisa amadurecer.



Eu te digo: Tilopa se refere à renúncia quanto aos sonhos interiores, às pontes, ao mundo interior.

... e medita em bosques e montanhas.



E, com isso, também não está dizendo que fujas para os bosques e montanhas. Houve quem o interpretasse assim e muitos fugiram de suas esposas e filhos e foram para as montanhas - coisa absolutamente errada. O que Tilopa está dizendo é mais profundo, não é tão superficial, porque podes ir para a montanha e permanecer na praça pública. A questão é a tua mente. Podes sentar-te no Himalaia e pensar na praça pública, em tua esposa, em teus filhos e no que estará acontecendo a eles.



Isto aconteceu: um homem renunciou à sua esposa, filhos família e veio a Tilopa para ser iniciado como seu discípulo. Tilopa estava estagiando num templo fora da cidade. O homem veio. Quando entrou estava sozinho e Tilopa também estava sozinho. Tilopa olhou em torno dele e disse: - “Vieste, está bem, mas por que essa multidão?” O homem também olhou para trás, porque ali não havia ninguém. Tilopa disse: - “Não olhes para trás! Olha para dentro! - a multidão está aí.” O homem fechou os olhos e a multidão ali estava: sua esposa chorava ainda, seus filhos estavam chorosos e tristes, tinham permanecido na fronteira da cidade, ponto até onde o haviam acompanhado - amigos, família, outras pessoas, todos estavam ali. E Tilopa disse: - “Vai-te embora; deixa a multidão. Eu inicio pessoas, não multidões.”



Não; Tilopa não dirá que renuncies ao mundo e vás para a montanha. Ele não é tão tolo. Não pode dizer isso - é um homem Desperto. O que ele quer dizer é o seguinte: que renuncies aos teus sonhos, às pontes, aos relacionamentos - não às relações; se renuncias à tua mente vais encontrar-te, de repente, nos bosques e nas montanhas. De repente, estás sozinho. Só tu estás ali, mais ninguém.



Podes estar na multidão e sozinho, e podes estar sozinho e na multidão. Podes estar no mundo, e não ser do mundo. Podes estar no mundo, e pertencer aos bosques e montanhas.



Esse é um fenômeno interior. Há bosques e montanhas interiores; Tilopa não pode dizer nada sobre montanhas e bosques externos, porque eles também são sonhos. Um Himalaia é um sonho, tanto como a praça do mercado em Poona, porque um Himalaia é um fenômeno externo, como o é a praça do mercado. Os bosques também são sonhos. Precisas entrar no interior - ali é que a realidade está. Tens que entrar cada vez mais na profundeza de teu ser; então chegarás ao Himalaia verdadeiro, alcançarás os verdadeiros bosques do teu ser, chegarás aos picos e vales do teu ser, às alturas e profundidades do teu ser. Tilopa quer dizer:







Se, sem esforço,



permaneceres desprendidamente em estado natural,







E é esse o significado, porque ele é partido do estado desprendido e natural. Fugir da esposa e dos filhos não é natural, não é, absolutamente, ser desprendido. Um homem que deixa sua esposa, filhos, amigos e o mundo torna-se tenso, não pode ser desprendido. Pelo simples esforço da renúncia, a tensão aparece.



Ser natural quer dizer ficar onde se está. Ser natural, quer dizer: onde te encontrares, fica. Se és marido, está bem; se és esposa, que belo; se és mão, está certo, tem de ser assim. Aceita o que quer que seja, onde quer que esteja e seja o que for que te aconteça; só então poderás ser desprendido e natural; de outra maneira será impossível que o sejas. Teus chamados monges, sadhus, gente que fugiu ao mundo, são, na verdade, covardes que estão sentados em seus mosteiros; não podem ser desprendidos e naturais, têm de estar tensos; fizeram algo que não é natural; foram contra o fluxo natural.



Sim, para algumas pessoas pode ser natural. Por isso não estou dizendo devas forçar-te a estar na praça do mercado, porque, então, irás para o outro extremo e farás, novamente, a mesma tolice. Para algumas pessoas é inteiramente natural estar num mosteiro; então, têm de estar num mosteiro. Para algumas pessoas pode ser inteiramente natural ir para as montanhas e elas são para as montanhas. O que deve ser lembrado, como critério, é ser desprendido e natural. Se és natural no mercado, ótimo. O mercado também é Divino. Se te sentes desprendido e natural no Himalaia, ótimo. Nada há de errado nisso. Lembra-te apenas de uma coisa: sê desprendido e natural. Não forces! E não queiras criar tensão dentro do teu ser. Relaxa.





... logo Mahamudra alcançarás...


Permanecendo desprendido e natural, logo chegarás ao clímax orgástico com a Existência.


... e obterás a não-obtenção.



E alcançarás aquilo que não pode ser alcançado. Por quê? Por que dizer que isso não pode ser alcançado? Porque não pode ser transformado num objetivo. Não pode ser alcançado pela mente orientada para um objetivo. Não pode ser alcançado pela mente atingidora.



Há muitas pessoas aqui que seguem a linha da mente atingidora. Estão tensas, porque fizeram meta do que não pode ser feito meta. Isso te acontece! - e não o podes alcançar. Não o podes alcançar - ele é que vem ter contigo. Só podes ser passivo, desprendido e natural e esperar pelo tempo exato, porque tudo tem sua estação apropriada. Por que tens pressa? Se estás apressado, ficas tenso e em constante expectativa.



Por isso é que Tilopa diz: ... e obterás a não-obtenção. Não é meta. Não pode ser transformado em alvo aquilo que desejas obter; não podes dirigir-te a ele como uma flecha, não. A mente, apontada para um alvo, é uma mente tensa.



De súbito chega, quando estiveres pronto;


nem mesmo os passos serão ouvidos.

De súbito chega.

Nem mesmo tens consciência de que está chegando.


Floresceu.

De súbito, vês o florescimento

e ficas repleto de fragrância.
 
 (Osho)

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